Por Jamir Calili
Encerrou-se, no último domingo (6/10), o ciclo eleitoral e, com isso, retorno às minhas colunas de domingo debatendo questões municipais, políticas e outras questões. Agradeço aos meus eleitores que confiaram a mim mais quatro anos de mandato na Câmara Municipal, reconhecendo nosso trabalho nos últimos anos. Meu partido elegeu a estreante Geisa Luana, representante feminina e com base territorial na região do Bairro Penha, uma região de nossa atuação política. Participei, com satisfação, da campanha em apoio ao candidato Renato do Samaritano e ao vice Élio Lacerda, os quais, juntos, não se sagraram vencedores. A vitória ficou com o candidato do Partido Liberal, Coronel Sandro, e o seu vice, José Bonifácio Mourão, ex-prefeito de nossa cidade. Uma vitória expressiva que demonstrou o desejo de mudança e que confere ao próximo mandatário legitimidade popular. A câmara, igualmente, enfrentou uma forte renovação, com 14 novos vereadores eleitos. Com exceção do vereador Igor Costa, os demais assumem o mandato pela primeira vez. Mesmo entre os reeleitos, a maioria tem poucos anos na Câmara. A câmara ampliou a participação feminina e tornou-se mais jovem.
O próximo ano, portanto, começa com novas perspectivas e grandes oportunidades para os eleitos: fazer diferente, criar oportunidades e condições diferenciadas para impactar a nossa comunidade. As urnas são soberanas. Podem não ser racionais, mas são soberanas e devem conduzir a mudanças daquilo que não está sendo legitimado. É obrigação dos novos eleitos e reeleitos se reinventar e dar resultados reais para a população. O tempo da campanha acabou, agora é tempo de transição de um governo para outro e logo após será um tempo de governar. O que prefeito e vereadores precisam entender é que antes de seus partidos, ideias e projetos, há uma cidade que precisa ser governada para beneficiar a vida de todos. Cabe ao prefeito entregar um bom time para o assessorar e cabe à Câmara Municipal avaliar projetos, fiscalizar, sem opor por opor e sem ser governo com submissão. É preciso votarmos conscientemente, mas sem revanchismos. Um mau governo é ruim para todos e não só para o prefeito. Ao prefeito, seus secretários, vereadores e líderes da comunidade impõe-se o dever de cooperação e não de competição. É óbvio que cooperar não significa aceitar tudo. Ao criticar, o ator político deve apontar caminhos e não somente pleitear a derrota do adversário. Política não pode ser a guerra feita por outros meios. A política precisa ser a arena onde se discutem os interesses da coletividade e a forma pela qual vamos realizá-los.
Há pelo menos três grandes desafios que o próximo prefeito precisará enfrentar: a) a gestão fiscal: embora tenhamos muitos recursos, ainda não são suficientes para a dimensão dos problemas que temos. Gosto de comparar Valadares com Uberaba, cidades com quantidade populacional similar. O orçamento de Uberaba é praticamente o dobro do da nossa cidade. E a renda per capita muito mais alta. Isso significa que nossa população depende mais do serviço público do que a uberabense, sendo este mais autônomo do que aquele e a nossa capacidade de atender à população é inferior; b) a gestão da saúde: o maior problema da nossa cidade é sem dúvida nenhuma a saúde pública. E o desafio é conciliar nosso papel de fornecedor de serviços regionais com o desafio de melhorar a gestão pública nesta área; e c) reforma administrativa: costumo falar que temos uma cidade com problemas de cidade grande com uma estrutura administrativa de cidade pequena. É preciso dedicarmos um tempo para formular uma nova Administração Pública, mais apropriada a responder aos dilemas da sociedade contemporânea.
Da minha parte, a próxima câmara e o próximo prefeito vão encontrar o espírito de colaboração que eu sempre tive. Continuarei dialogando, como sempre fiz, para encontrar soluções para os problemas de nossa cidade. Apesar de termos ganhado em campos políticos distintos, minha vocação é por ajudar a resolver problemas, dentro ou fora do executivo. Apontar críticas e problemas, buscando as soluções para eles, é o papel efetivo de um político comprometido com sua comunidade. E esse será meu papel. Quem me acompanha aqui aos domingos sabe que costumo externar meus pontos de vista. Meu objetivo, além de convencer meus interlocutores, é, também, ser interpelado com críticas construtivas, com novos pontos de vista.
Em uma cidade onde os desafios se avolumam, a renda per capita ainda é baixa e há desafios de ordem social e econômica para serem resolvidos, é preciso ter uma postura proativa e resolutiva e não o combate pelo combate. Congratulo os eleitos e desejo sorte e um bom trabalho, em especial ao próximo prefeito. A todos os que disputaram as eleições, sendo sempre uma tarefa árdua e, comumente, ingrata, que a sabedoria divina ilumine a todos nós.
DESAFIOS PARA O PRÓXIMO PREFEITO
Ao longo das minhas colunas deste ano, antes do período eleitoral, comentei vários desafios que o próximo prefeito terá ao longo dos seus próximos quatro anos. Apesar do debate ideológico e as diferenças significativas de projetos entre os postulantes é preciso considerar que há um conjunto de respostas que devem ser dadas independentemente daquele que está no poder. São questões municipais que devem ser resolvidas por qualquer um dos prefeitos. Vou aproveitar esse espaço para repetir algumas considerações que fiz ao longo deste ano, uma vez que faz se necessário reforçar as ideias que tenho defendido.
São cinco os maiores desafios que o próximo prefeito enfrentará: a) o desafio da saúde; b) o desafio urbanístico; c) o desafio da segurança pública; d) o desafio do combate à pobreza; e e) o desafio do emprego. Vamos abordar cada um deles de forma geral.
Não tenho a menor dúvida de que, se fizer uma pesquisa, saúde será o maior problema apontado pelas pessoas. É um desafio velho e todos os prefeitos do passado enfrentaram. Há três pontos a serem considerados aqui: a) a regionalização da saúde sobrecarrega o município de Gov. Valadares e gera um problema de financiamento; b) é preciso maior transparência e menos política na saúde e isso você resolve com regras mais claras, servidores efetivos e maior controle social da política pública; e c) investimento em saúde preventiva. Longe de mim imaginar que esse seja um problema fácil. É talvez o desafio número 1. Um dos mais complexos.
O desafio urbano diz respeito à gestão da infraestrutura da cidade. O Plano Diretor merece uma atenção maior. É um plano essencial para a gestão. Além disso, temos o desafio de pavimentar e manter a pavimentação com qualidade, respondendo aos problemas de drenagem e escoamento de vias, questão, inclusive, que já se encontra judicializada. Sem falar de estarmos preparados para as questões climáticas. Esse problema é menos complexo do que o anterior, porque o estado da arte está mais consolidado.
O desafio da segurança pública não depende só do município. É uma atribuição essencialmente do Estado e da União. Mas não dá para o município ficar de braços cruzados. Volto a insistir na criação da secretaria de segurança pública, na criação da guarda municipal e uma política municipal de estratégia em segurança. O conselho comunitário de segurança pública (CONSEP), uma iniciativa da sociedade civil, poderia contribuir muito na construção desta política municipal. Valadares é uma cidade muito violenta e isso afeta à saúde, a economia e a outros setores. Há várias experiências exitosas em várias cidades que poderiam ser estudadas e copiadas.
O desafio do combate à pobreza depende do investimento mais sério na Assistência Social. Eu já falei em outras colunas que a Assistência Social precisa avançar no debate público. Assistência social hoje precisa ser encarada como prioridade, especialmente porque a pobreza hoje não está muito mais ligada à questão financeira. Com os programas sociais, a questão financeira tem sido um problema menor. Hoje, os maiores desafios estão na vulnerabilidade correlacionada à desestruturação da família, uso de drogas, violência e abandono. Veja o caso das pessoas em situação de rua. A questão é muito mais profunda do que somente arrumar casa para eles. Há um desafio global que envolve média e alta complexidade em assistência social que não se resolve só com dinheiro e comida.
Por fim, há o desafio do emprego, do mercado de trabalho. Há um descompasso grande entre pessoas buscando emprego e empregos disponíveis. Ao mesmo tempo que temos muitas vagas abertas, temos muita gente procurando emprego. Usando a gíria das redes sociais, a oferta e a demanda no mercado de trabalho não estão dando match. Esse problema aqui exige pesquisa, um aprofundamento maior para gente compreender a causa da deterioração do mercado de trabalho local.
É claro que há muito mais a se aprofundar sobre esses desafios. O espaço não permite um avanço mais aprofundado, com detalhamento dos índices que comprovam o que estou expondo. Mas, todos esses desafios foram analisados comparando os números e dados extraídos do ranking de competitividade dos municípios que mostra a evolução de cada indicador municipal ao longo do tempo. Além disso, usei a literatura especializada para cada tópico na questão das políticas públicas e minha experiência como legislador. Por fim, advirto o eleitor. Eu entendo e compartilho da frustração geral da sociedade com a política. Mas a raiva não é boa conselheira. Prefeitos devem ser escolhidos pela capacidade de gerenciar, muito mais do que por debates ideológicos.
Sobre o autor
Jamir Calili Ribeiro é vereador, reeleito para o mandato 2025-2028, professor da UFJF/GV e colunista do Jornal da Cidade GV