por Marcius Túlio
O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus." (Lord Acton, 1834-1902)
John Emerich Edward Dalberg-Acton foi um pensador e historiador inglês do século XlX, descrito como o “magistrado da História”. Elegeu como os principais inimigos da liberda- de, o Estado e as multidões.
Dono de frases como: “A moralidade depende da liberdade” e “Socialismo significa escravidão”, autenticou ainda que: “Autoridade que não existe para a liberdade não é autoridade, mas força.”
Transportado para a realidade tupiniquim, eis que encontramos no cenário nacional uma frase de efeito atribuída a uma celebridade econômica/política com sentido semelhante: “O poder domestica.” (atribuída a Delfim Neto- 1928-2024).
Ao referendar duas personalidades distintas, identificadas em diferentes momentos históricos e em diferentes ambientes, o faço buscando captar alguma coerência com fatos atuais que animam o cotidiano do brasileiro, quiçá do mundo. As excrecências jurídicas, políticas, econômicas, sociais, com as quais convive o brasileiro, parte por vontade própria, parte por imposição, trazem consigo pontos de inflexão sem os quais a cidadania pode entrar em rota de colisão com os
interesses do Estado, enquanto poder.
É inegável a alternância de regras a serem seguidas em função da premissa criada, onde os fatos devem se adequar às narrativas, embora possa parecer surreal ou anti natural, o que inexoravelmente remete a uma tênue linha de coerência e legalidade.
A partir do momento em que banquetes definem condu- tas, onde os conceitos e posturas se alinham ao pensamento ideológico antagônico para se atingir um objetivo obscuro, vê-se ruir toda a credibilidade que um dia ousou existir.
Aparentemente, nesse caso, o poder domesticou os comensais de boa fé, alvejando de forma eficaz e implacável os interesses de uma nação condenada ao martírio, rotulada e à deriva no oceano da eternidade.
Os atropelos que finalmente se tornaram comuns e suportáveis diante da lei, parecem impregnados nas entranhas de um povo sufocado por narrativas utópicas e levianas implementadas por profissionais do discurso distópico, cujos efeitos colaterais e as consequências, eles próprios sentirão, mais dia menos dia.
A prioridade imperiosa é estabelecer um padrão de comportamentos que privilegie a vontade de um sistema de poder ainda desconhecido da população brasileira, a rota para o isolamento esta sendo traçada de maneira rápida e inequívoca, com o mantra de democracia absoluta.
O poder pelo poder expropria a matéria e vicia o espírito, em dado momento se mantém por si só e independe do apoio e da autoridade, só da força. Sustenta-se pelo ego, pela vaidade e pela escravização de súditos corrompíveis pela ilusão temporária que a sensação de intimidade lhes oferece.
O Poder é insinuante e sedutor, vistoso e tentador, mas é solitário e egoísta, não admite cumplicidade ou sociedade, é ciumento e voraz, invejoso e vingativo, tem na ingratidão sua maior aliada.
Muitos se enamoraram dele, sentiram as delícias des- lumbrantes de sua epopeia, mas todos, sem exceção, como num ciclo vicioso, sucumbiram na verdade que só a liberda- de pode oferecer.
Por ser efêmero, flerta constantemente com os inevi- táveis abusos que podem causar traumas irreversíveis em pessoas e danos catastróficos numa nação. É como o canto da sereia, inspira realidades utópicas e idealiza ambiências imaginárias num cenário de tragédias e frustrações onde so- mente um Leviatã sobrevive forte e robusto.
Como bem disse Otto von Bismark, “somente os tolos não se aproveitam das experiências alheias”, recorro mais uma vez ao Lord inglês, “A posse de poder ilimitado corrói a cons- ciência, endurece o coração e confunde o entendimento” ou “A liberdade não é um meio para um fim político mais eleva- do. Por si só, é o mais elevado fim político”.
Lord Acton, em sua lucidez, ainda asseverou que “A paixão pelo poder sobre os outros nunca vai deixar de ameaçar a humanidade, irá sempre encontrar aliados novos e imprevistos para continuar seu martirológio". Trata-se de uma saga recorrente na natureza humana enquanto trajados da vaidade e dos infortúnios adquiridos ao longo da caminhada, o aperfeiçoamento será sempre pessoal, voluntário e libertário.
A cada um conforme suas realizações, assim entendo conforme minha crença. A liberdade pode até ter um alto preço, mas é, indubitavelmente compensatória, senão para mim, para as próximas gerações.
Paz e Luz.
Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais