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Nossa história começou no Bairro São Tarcísio, na Rua Direita

Na região do São Tarcísio havia um porto de canoas, que traziam mantimentos para o povoado, navegando nas águas do Rio Doce
Nossa história começou no Bairro São Tarcísio, na Rua Direita
domingo, 21 março, 2021

Aqui começou a Figueira, na cachoeira de baixo e no antigo Porto das Canoas, de onde surgiu a rua que se tornou “a de baixo”, à direita, e do casario onde foi levantada a capelinha pelos capuchinhos da catequese indígena sediada em Itambacury.

Figueira, à margem esquerda do Rio Doce, e fronteiriça à ilha do mesmo nome, que se assim era chamada por ser nativa das figueiras silvestres, que depois ficou conhecida como Arraial de Santo Antônio da Figueira, contando com 80 a 100 fogos (casas) para 200 habitantes. E se tornou porto frequentado por canoas que transportavam artigos de sobrevivência, vindo do Espírito Santo, desde 1832, e mais ativamente a partir de 1870.

A narrativa acima é de José Raymundo Fonseca, no seu livro “Figueira do Rio Doce - Ibituruna”, lançado em 1985. Não apenas ele, mas outros escritores e historiadores quando escrevem sobre as origens da cidade que desde 17 de dezembro de 1938 adotou o nome Governador Valadares, fazem referência à Rua Direita, destino do Porto das Canoas, como o local onde toda história começou. Essa rua existe até hoje. Mudou de nome: Rua Prudente de Morais.

Na gênese da cidade, era pelos lados da Rua Direita que se encontrava um pedaço de terra à margem do Rio Doce, até então desabitado e sem muita importância geográfica. Esse pedaço de terra é o Bairro São Tarcísio, cuja ocupação se iniciou por volta de 1950.

O Bairro leva o nome de um santo da Igreja Católica, São Tarcísio, por sugestão do Padre Geraldo Vieira, em conversa com os primeiros moradores, que se emocionaram ao saber que o menino Tarcísio, canonizado pelo Papa Xisto II, foi morto num ataque de fúria de jovens romanos, com socos, pontapés e apedrejamento.

Quando o São Tarcísio começou a ser ocupado, Governador Valadares tinha apenas dois bairros: Bairro do Lixo, onde a Prefeitura depositava o lixo doméstico produzido pelos primeiros moradores, (atual São Geraldo) ;e Bairro do Sapo, com suas muitas lagoas e cursos d’água (atual Nossa Senhora das Graças).

A faixa territorial onde surgiu o São Tarcísio não foi prevista como área urbana no traçado de ruas da cidade, feito pelo engenheiro Olympio de Freitas Caldas, cujo trabalho a cidade ignora solenemente até hoje.

Na Revista Embarcação, projeto experimental de um grupo de alunas do curso de Comunicação Social da Univale, em 2002, um dos primeiros moradores do São Tarcísio, Antônio Buenos Aires descreveu uma trajetória de luta e persistência para viver em um local sem nenhuma infraestrutura. Ele contou que precisou ficar de plantão para não perder o seu espaço nas terras até então imprestáveis. Lá ele construiu rapidamente o barraco de madeira para assegurar seu lugar. E, a partir daí, foi um dos primeiros moradores a participar com a força de seu trabalho, das primeiras obras que viriam beneficiar as famílias que ali se juntaram para formar o bairro.

Antigos moradores disseram que as terras onde está o São Tarcísio pertenciam ao pioneiro Quintiliano Costa. Mas o ex-prefeito de Governador Valadares, Hermírio Gomes da Silva, afirmou que essas terras eram de Euzébio Cabral, homem que estabeleceu um império pecuário em Governador Valadares, e a divisão em pequenos lotes foi feita pelo prefeito considerado o “pai dos pobres”, o médico Raimundo Albergaria.

Uma coisa é certa: a cidade começou ali, na região do São Tarcísio, considerado pela Prefeitura de Governador Valadares como o Marco Zero, porque se localizava entre dois portos de canoas. Um deles, se localizava ali pertinho da Rua Direita (atual Prudente de Morais) e o outro, perto do local onde hoje está a Estação de Tratamento de Água do SAAE. Nos dois portos chegavam grãos, frutas e pequenos animais destinados ao comércio essencial para alimentar os figueirenses.

O primeito porto, vizinho do São Tarcísio foi desativado quando a Estação Figueira foi inaugurada, em 1910. O outro porto desapareceu por volta de 1940, com o início da construção da Ponte de São Raimundo, e o comércio que ali era feito, buscou terra firme, mais distante da margem do rio e se transformou no Mercado Municipal.

Nos primeiros anos da ocupação do São Tarcísio, a área onde hoje se localiza o bairro era irregular e Rio Doce avançava em grande parte, criando uma pequena ilha. O braço do rio que formava a ilha foi aterrado com lixo, como forma de ampliar a área de terra firme, e ao longo dos anos, o assoreamento do rio tratou de transformar tudo em terra firme, pronta para receber novas construções.

Por ali, lembram os primeiros moradores, como Anésio Pereira (em entrevista à Revista Embarcação), na parte baixa mais próxima do rio havia um matadouro e um moinho que pertenceu a Sotero Ramos, empresário que construiu as primeiras salas de exibição de filmes em Governador Valadares, e também o primeiro gerador de energia elétrica da cidade. Havia também a Serraria do José Ferradeiro, conhecido como Português. O interesse nas terras do entorno do São Tarcísio surgiu do atrativo que esses empreendimentos ofereciam.
Antônio Buenos Aires, por exemplo, foi um dos primeiros ocupantes das terras do São Tarcísio, a trabalhar na serraria do “Portuga”.

Depois dele, outros trabalhadores fincaram suas casas por ali pra ficar mais perto do trabalho.
Passados mais de 100 anos da ocupação do entorno do São Tarcísio, até hoje há o interesse imobiliário na área. Se nos primeiros anos as pessoas fincavam casebres, hoje, brotam do chão sagrado da Figueira, empreedimentos imobiliários gigantescos, como o edifício mais alto da cidade que está sendo construído pela Construtora WR.

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