Primeiros carnavais de GV: a festa tinha pierrots e colombinas, arlequins, confetes e serpentinas

Quem comandava a festa eram os irmãos Orlando e Corando Pinto, do Clube dos Leões, da Rua de Baixo (atual Prudente de Morais)
Foliões na frente do sobrado do farmacêutico Octávio Soares Ferreira, que foi demolido, e se localiza na Rua Marechal Floriano, quase em frente ao fórum. Foto: Museu da Cidade
segunda-feira, 12 fevereiro, 2024

Antes de Governador Valadares ter esse nome, essa bela planície onde estão a cidade, o Rio Doce e o Pico da Ibituruna, era um lugarejo pacato, que se chamava Figueira, um distrito de Peçanha. Pacato até certo ponto, porque em alguns momentos, a vida social da Figueira era agitada, como nos dias de carnaval.

Uma foto de 1931, e que está no Museu da Cidade, revela essa agitação carnavalesca. Nesta foto, alguns figueirenses (os primeiros valadarenses) fizeram pose na frente do sobrado do farmacêutico Octávio Soares Ferreira, cujas ruínas ainda estão no mesmo lugar onde a foto foi concebida: Rua Marechal Floriano, quase em frente ao fórum da cidade.

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Veja a localização do sobrado, onde os foliões posaram para a foto histórica. Google maps

O Clube Carnavalesco dos Leões

Os foliões estão vestidos com fantasias de pierrots, arlequins e colombinas, formando um animado bloco que desfilava pelas empoeiradas ruas da Figueira seguindo os músicos do Clube Carnavalesco dos Leões, sob o comando dos maestros Orlando Pinto e Corando Pinto.

Certamente, o grupo devia cantar e dançar marchinhas como O teu cabelo não nega, de Lamartine Babo e Irmãos Vitale, lançada em 1929. Mas como essa música chegou na Figueira, em tempos em que a radiodifusão estava nascendo nos grandes centros do Brasil?

Quem trouxe o disco de acetato do Rio de Janeiro para a Figueira foi o Didinho Pinto. Mas quem era Didinho? Ele era filho do maestro Orlando Pinto, que comandava a banda de música da Figueira, que se chamava Figueira Jazz Band. Didinho tocava saxofone e sua relação com a música ia além de executar o instrumento e ler as partituras do velho Orlando. Ele tinha os discos mais atuais da MPB e, segundo Mundinho, a vitrola mais chique da Figueira. Que beleza!

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O sobrado foi demolido, mas a fachada, em ruínas, continua de pé. Foto: Tim Filho JC

O telegrafista

Didinho andava sempre com os melhores ternos. Esse estilo elegante de Didinho foi conquistado com muito suor e o belo salário que ganhava como telegrafista da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Ele conquistou essa vaga quando fez o concurso para o telégrafo nacional, em Vitória, ES. Passou em primeiro lugar, sendo laureado como o mais rápido telegrafista da turma.

Siga a pista: Didinho trabalhou em Vitória, ES, certo? Os discos vinham do Rio de Janeiro, chegavam em Vitória e, de lá, vinham para a Figueira.
Além de O teu cabelo não nega, os figueirenses também conheciam músicas como o primeiro samba brasileiro, Pelo telefone, composição atribuída a Ernesto dos Santos, conhecido como Donga. Neste samba, de 1919, havia versos engraçados, como o chefe da polícia pelo telefone manda me avisar...

O teu cabelo não nega

A hipótese de que a marchinha O teu cabelo não nega ter levantado poeira na Figueira, em 1931, se sustenta no fato dessa música ter sido um dos maiores sucessos carnavalescos de todos os tempos, mesmo com os versos que hoje são ser considerados politicamente incorretos e a levariam ao “cancelamento”: mas como a cor não pega, mulata/mulata eu quero seu amor.

Virando a ampulheta do tempo: o sobrado de Octávio Soares Ferreira foi demolido, o carnaval de pierrots, arlequins e colombinas não existe mais. Mas a história, essa ninguém apaga.

Texto de Alpiniano Silva Filho (Tim Filho), jornalista, pesquisada nos compêndios da história de Governador Valadares.

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