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O quinto dos infernos

Marcius Túlio, colunista do JC, faz um comparativo entre a cobrança de impostos feita no passado (por meio do "Quinto da Derrama") com a cobrança atual, que segundo ele, ainda causa repulsa e indignação.
No passado, a Coroa Portuguesa levou grande parte do nosso ouro cobrando o "Quinto da Derrama". Imagem Ilustrativa reproduzida da Internet
domingo, 18 fevereiro, 2024

Por Március Túlio

Não é novidade que o termo/título foi inspirado e criado para se referir ao Quinto da Derrama de forma pejorativa e com uma ponta de ódio pelo abusivo imposto cobrado pela Corte Portuguesa ao Brasil Colônia.

Passados mais de 200 anos, a lembrança registrada pela História ainda causa repulsa e indignação e não podia ser diferente, haja vista todas as circunstâncias que envolviam aquele triste momento da nossa tão deturpada trajetória histórica.

O Quinto da Derrama era implacável, aos moldes da lenda Robin Hood, entre outros prejuízos causados ao Brasil, o estagnava na condição de Colônia Portuguesa condenando-nos a sub nação.

Era um imposto cobrado à Colônia, coisa institucional e sem retorno algum. Era destinado à esbórnia da Corte e para garantir o status da nobreza que vivia do ócio, tudo bancado por uma plêiade de escravos miscigenados, brancos negros e índios que cá viviam em condições sub humanas.

O sonho da independência acalentava os brasileiros, desejosos de se livrarem do Quinto dos Infernos, entretanto, consolidada a independência, o quinto se tornou o terço. Com a suave justificativa que a riqueza agora vai para uma Corte brasileira e não mais para Portugal. Às vezes para paraísos fiscais, mas tudo com amor, e o quinhão não é mais institucional, mas é devido ao cidadão.

Por mais que tentemos entender, ninguém ainda conseguiu decifrar o destino de tantos impostos cobrados ao longo de mais de 200 anos, nem mesmo quantificar essa derrama, de modo que se torna uma avalanche de sentimentos de emoções e de percalços que se tornaram comuns na vida dos nacionais, um sonho distante, utopia.

Qualquer literatura sobre economia, por mais chula, por mais rasa, por mais simplória que seja, dá conta que não se pode gastar mais do que se tem, se isso acontecer, é o caos, chamado de dívida, que se transforma em inflação. E a bola de neve se forma.

Como sabemos, a inflação é um câncer que aflige todos os povos, já causou catástrofes infindáveis, guerras e fome. Mesmo com todo o avanço das tecnologias humanas, com a maximização da chamada inteligência emocional, ainda não conseguimos extirpar das nossas vidas a tal inflação.

Talvez porque atrelada a ela exista sua irmã siamesa, conhecida como ambição, também conhecida por usura, umbilicalmente ligada ao irmão mais forte, o Poder.

Sendo o objetivo maior a se conquistar, o Poder contamina os sentimentos e transforma os seres em meros coadjuvantes animados, subjuga as relações e causa terror. Sem suas irmãs ele não sobrevive, portanto, as incentiva a fomentar, pois a estabilidade econômica o desfalece humanizando-o, dividindo-o e não permitindo o absolutismo.

Fomentar a inflação é uma tática perigosa, mas uma arma poderosa para quem sabe manuseá-la. Portanto, nada melhor que inflacionar os bens de consumo, notadamente os alimentos, assim, demoniza-se o agronegócio, remetendo toda a produção ao Estado que irá patentear, direcionar e distribuir, tornando-se o único provedor conforme as fazendas coletivas existentes na extinta URSS.

Então, seremos todos funcionários do governo ou do
Estado, assalariados, comportados e diligentes. O paraíso dos funcionários públicos a manter a esbórnia da Corte. Não mais a portuguesa. Não mais o Quinto, mas de volta ao inferno.

Paz e Luz

Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais e colunista do Jornal da Cidade GV

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