A ideia hoje era comentar sobre os clubes de futebol de Minas Gerais, mas alguns minutos antes de começar a escrever a matéria, me deparei mais uma vez com o nosso futebol saindo nas páginas policiais das principais mídias do país devido a uma emboscada provocada pela torcida organizada Mancha Alviverde Verde, do Palmeiras.
A Mancha Alviverde, que estaria acompanhada de outras organizadas, bloqueou a importante rodovia Fernão Dias no sentido Belo Horizonte, onde cercaram e agrediram, ou melhor, lincharam, sem dó nem piedade, de maneira covarde, fria e premeditada, já que os agressores e assassinos estavam em número muito maior, e tudo longe dos estádios, e sem o calor da rivalidade que ocorre durante os jogos.
Isso faz cair por terra a tese de que torcida única resolve o problema de briga de torcedores. A emboscada teve um saldo de 17 torcedores internados, alguns em estado grave, e uma morte, do torcedor José Victor Miranda, de 30 anos, que foi retirado do ônibus ainda em chamas, com queimaduras graves, e que não resistiu aos ferimentos.
Os cruzeirenses foram pegos de surpresa, a maioria provavelmente estava dormindo, já que voltavam do estado do Paraná, onde acompanharam o jogo do seu time diante do Athletico Paranaense. A selvageria praticada por marginais, assassinos covardes, que não vestem a camisa de seu clube, mas a camiseta de sua facção organizada.
Eles criaram uma rivalidade colossal e maquiavélica, que nada tem a ver com o futebol. Sabemos que muitas dessas organizadas estão associadas às facções criminosas e que algumas armas brancas antes usadas como soco inglês, facas e rojões, agora são acompanhadas por armas de fogo, como pistolas e fuzis, são utilizados para expor o ódio e desprezo à vida humana.
Segundo o que foi apurado pela imprensa, o ocorrido foi uma retaliação a outra emboscada, desta vez praticada pela torcida Máfia Azul, do Cruzeiro, em 2022, quando os palmeirenses voltavam para são Paulo, após assistirem a uma partida do seu time, em Belo Horizonte, onde vários torcedores, inclusive o presidente, também foram agredidos de forma covarde e brutal.
Escrevo com a propriedade de quem já viajou algumas vezes com a torcida organizada Galoucura, de Governador Valadares, e numa dessas viagens também fomos surpreendidos pela torcida Máfia Azul da nossa cidade. O fato ocorreu em meados da década de 1990, na cidade de João Monlevade, no antigo Restaurante 5 Estrelas, onde atualmente funciona a Rede GRAAL.
Para a nossa sorte, o local é bastante movimentado, mesmo de madrugada, quando ocorreu o enfrentamento, e por isso houve rápida intervenção de seguranças e da polícia, que em alguns minutos acabou com a guerra entre as duas torcidas.
Mas antes da chegada dos policiais, saltamos todos pelas janelas pelas do ônibus e alguns mais jovens, como eu e meu amigo Andrez, nos protegemos atrás dos pneus de um ônibus estacionado, enquanto uma guerra de fogos e rojões acontecia, e estrondos eram ouvidos quando fogos que ecoavam, atingia o salão do restaurante, que ficava na parte superior, onde estavam várias pessoas, que tinha nada tinham a ver com torcidas.
A selvageria continuou no dia seguinte, com “chuvas” de pedradas no entorno do estádio, horas antes da partida começar. Nessa mesma época, um colega de torcida, o já falecido Marcelão, atirou uma bomba dentro de uma viatura da polícia, também nos arredores do Mineirão.
Foi quando deixei de participar desse tipo de excursão. Não é a primeira vez que fatos como esse ocorrem, mas poderia ser a última, para isso, poderia ser criado uma força tarefa envolvendo os clubes, a CBF, o Ministério do Esporte e a justiça, para que penas duras a clubes e marginais disfarçados de torcedores sejam impostas.
Esses falsos torcedores precisam ser penalizados, presos e banidos para sempre do futebol. Sabemos que promover interações entre torcidas rivais é algo quase impossível. Desta forma, não há outra saída a não ser a extinção dessas verdadeiras facções infiltradas num esporte tão popular como é o futebol.
Não seria nenhum exagero exigir que penas duras sejam aplicadas aos clubes, como perda de pontos, jogar de portões fechados e até mesmo o rebaixamento, para os clubes que não conseguirem proibir a presença desses animais dentro dos estádios de futebol.
Não devemos nos esquecer que não há nada mais importante que uma vida humana, que o sangue de pessoas não seja derramado e que a integridade física de todos sejam protegidas e preservadas, e não dilaceradas, por uma rivalidade que deve estar unicamente restrita ao campo de jogo, e que termine quando o juiz apitar o final de uma partida de futebol.
Sobre o autor:
Hermínio Fernandes é comentarista esportivo e colaborador do Jornal da Cidade GV