Efeito borboleta

Marcius Túlio escreve sobre o efeito borboleta, uma metáfora utilizada por Edward Lorentz, meteorologista norte-americano
Ilustração sobre a metáfora do efeito borboleta, reproduzida da internet
domingo, 21 julho, 2024

POR MARCIUS TÚLIO

“Quem controla o passado controla o futuro, quem controla o presente controla o passado.” (George Orwell 1903-1950)

A frase, inserida no livro 1984, datada de 1949, do mesmo autor, potencialmente ambígua, pode trazer um significado bastante interessante se transportada para a atualidade, especialmente considerando o contexto social e político a que estamos inseridos.

Não sou historiador e não me considero capacitado para pretendê-lo, apenas me deleito com a História, busco nela argumentos para não dar com a “cara na porta” em minha rotina, bem como para não incidir de forma negativa na máxima de Bismarck de que “somente os tolos não se aproveitam das experiências alheias”.

Nessa toada, branda, mas inquietante e com a fiel pretensão de estimular a capacidade conclusiva das pessoas que ainda acreditam na verdade, buscando nesta a resposta para o real sentido da vida terrena, faço algumas propostas, simples como há de ser nossa trajetória mas complexas, consideradas as nuances e as circunstâncias que a História nos apresenta.

Quando buscamos na matemática algumas explicações mais contundentes sobre o caos, deparamos com o fato de que pequenas diferenças podem causar resultados significativamente divergentes para os sistemas dinâmicos, tornando as previsões impossíveis e isso seria positivamente o caos.

Não existe um sistema mais dinâmico no universo que conhecemos que a vida, que é construída em momentos, em sequência de momentos, sua soma e soma é matemática. O momento que passou é História, por mais simples que seja, pode provocar resultados muito diferentes em todos os sentidos ou até mesmo alterar o curso da História, tornando-a imprevisível. Trata-se de uma dízima periódica, matemática portanto.

Diz a História, talvez uma lenda, que uma maçã caiu sobre a cabeça de Isaac Newton, (1643-1727), a partir daí, matemático e físico que era, desenvolveu sua teoria da Lei da Gravidade que é aceita até hoje, um simples “acaso” deu forma a uma Lei até hoje aparentemente imutável.

Trata-se do Efeito Borboleta, uma metáfora utilizada por um meteorologista norte-americano, Edward Lorentz (1917-2008), que em suas observações “destaca que a profunda interligação de eventos aparentemente não relacionados sugere que uma pequena mudança em uma parte de um sistema dinâmico pode levar a consequências significativas em outros locais.”

Em outras palavras, num contexto mais coloquial, significa “que uma minúscula coisa que aconteceu em nossas vidas pode causar resultados grandes e se talvez tivéssemos deixado de fazer esse algo ou se tivéssemos feito de forma diferente, isso resultaria numa situação melhor ou pior que a que vivemos.”

O chamado Efeito Borboleta, vinculada conceitualmente na teoria do caos, provavelmente foi e é muitas vezes ignorado pelos historiadores, às vezes por desconhecimento e talvez por conveniência, proposital, para exaltar atos e fatos que defenestrem alguém ou algo para ocultar interesses difusos ou desconhecidos. Não é possível identificar, especialmente quando não controlamos o passado.

É notável, por exemplo, que Tomé, o dídimo, não era um incrédulo, era um questionador, apenas buscava entendimento mais aprofundado dos ensinamentos do Mestre, efeito borboleta inserido na teoria do caos, interesses provavelmente foram defendidos para que a fama lhe alcançasse pela eternidade.

Uma rivalidade política, fruto de uma paixão devastadora pode ter desencadeado a Proclamação da República no Brasil. Talvez não comemorássemos o dia 15 de novembro e talvez a república não nascesse de uma traição. Provavelmente o Imperador, homem de caráter dinâmico e democrático, um visionário, levasse a cabo sua intenção de instaurar uma transição entre uma monarquia pujante para uma república forte, estruturada e perfeitamente estruturada com base na democracia e no desenvolvimento econômico, deixando para trás as picuinhas políticas fortalecidas pela traição republicana e suas sequelas aparentemente incuráveis.

O fato é que, ignorado os efeitos borboleta circunstancialmente existentes no país, parece terem se tornado o grande trunfo dos políticos brasileiros, notadamente com a criação dos chamados “cancelamentos”, de onde se originam as chamadas narrativas tendenciosas/criminosas, deturpando o passado para corromper o futuro, esmagando o presente com presépios e picanha.

Sem a exatidão inicial, obviamente necessária, o sistema dinâmico é vulnerável, as respostas são incongruentes, os resultados certamente serão divergentes, a conta não fecha e o futuro é imprevisível, a médio e a longo prazos, estaremos então alojados no caos.

Paz e Luz.

Sobre o autor:

Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais

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