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Quando as anormalidades acuam a normalidade

Marcius Túlio, articulista do Jornal da Cidade GV, analisa contrapontos recorrentes na vida do Brasileiro
O Brasil é a nossa bandeira. Ilustração reproduzida da Internet
domingo, 25 agosto, 2024

Antes mesmo de discorrer sobre o tema proposto, é de bom alvitre que se esclareça sobre os dois substantivos que o protagonizam.

Sem a pretensão professoral, mas no intuito ilustrativo, tem-se que o substantivo feminino NORMALIDADE é relativo ao adjetivo NORMAL, conforme dicionários pátrios, que exprime conformidade com a regra, dentro das normas, modelo, exemplar, natural.

Já o substantivo feminino ANORMALIDADE é relativo ao adjetivo ANORMAL que exprime exatamente o contrário do que é NORMAL.

Dito isso, trago à baila alguns contrapontos muito recorrentes na vida dos brasileiros, desde sempre e que fazem parte do controvertido comportamento de uma população miscigenada que, ao conviver com repetidas enganações e estelionatos, passou a assimilar os golpes com passividade, muitas vezes confundida com pacificidade.

Algumas incongruências e incoerências danosas ao progresso de toda uma nação foram e são perpetrados à luz do dia sendo que muitas vezes não nos apercebamos disso.

Eis aqui um aperitivo, já que não pretendo nem consigo esgotar o assunto, mas posso, pelo menos, aguçar alguns sentimentos tendentes ao raciocínio equilibrado  e satisfatório a cada um particularmente.

A começar pela paixão nacional, o futebol, caso um árbitro, ao encerrar  um grande jogo, com a vitória de um determinado time, declara publicamente, VENCEMOS!  É normal ou anormal?

A realização de eleições, seja para que cargo for, sem a possibilidade de uma auditoria em caso de necessidade, é normal ou anormal?

Alterar a regra do jogo, durante a realização de uma partida, para beneficiar um dos concorrentes é normal ou anormal?
A suposta vítima atuar como julgador é normal ou anormal?

Um operador do direito classificar um ato ou fato como crime, sem definição legal e normal ou anormal?

Calar-se diante de ilegalidades flagrantes, tendo poder e o dever de coibi-las é normal ou anormal?

Ceifar ou restringir direitos constitucionais sem obediência aos preceitos legais da ampla defesa e do competente processo regular é normal ou anormal?

Apontar um culpado antes do julgamento legal é normal ou anormal?

Permitir que pessoas condenadas por crimes concorram a altos cargos políticos ou sejam indicadas para altos cargos públicos é normal ou anormal?

Usar do alto cargo para cometer abusos e arbitrariedades visando obter vantagens pessoais é normal ou anormal?
Negociar direitos alheios conforme sua vontade é normal ou anormal?

Definir políticas públicas, tendo autoridade para tal, para atender desejos pessoais ou partidários é normal ou anormal?
Viver numa e pregar uma democracia e defender ditadores e ditaduras é normal ou anormal?

Mentir deliberada e reincidentemente para angariar simpatia e alcançar vantagens ilícitas, escarnecendo da inteligência alheia é normal ou anormal?

Perseguir, ameaçar, extorquir, chantagear, cancelar ou até mesmo exterminar, em tempos de paz os opositores políticos ou aqueles que divergem da sua opinião é normal ou anormal?

Abandonar a legislatura para a qual foi eleito para concorrer a outro cargo eletivo é normal ou anormal?

Firmar acordo ou pacto ou contrato com pessoas reconhecidamente criminosas é normal ou anormal?

Eleger seguidamente políticos que a cada campanha promete mudanças e renovação é normal ou anormal?

Ser eleito com votos de outro candidato é normal ou anormal?

Talvez, quem sabe, o enfoque abordado possa, um dia, nortear nossa tendência e a partir daí, ainda no campo das possibilidades, poder-se à traçar um perfil da população brasileira a ponto de definir com mais objetividade o nosso destino.

Provavelmente, ao entender o universo dos pontos elencados, as incertezas estarão presentes, especialmente quando o fantasma do “leve vantagem você também” surgir entre os objetivos finais, nesse caso,  a caminhada será mais longa.

A vacância entre o NORMAL e o ANORMAL trará, com certeza, sequelas irreversíveis a curto e médio prazo, as ANORMALIDADES, ao superarem a NORMALIDADE, incidirão nos sentidos e no pensamento coletivo racional, interferindo no curso cíclico da História, trazendo de volta lembranças de tempos sombrios, nefastos e aterrorizantes.

Nesse caso, havemos de adequar nossos conceitos ou sucumbirmos ao som das trombetas.

Paz e Luz.

Sobre o autor:

Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais

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