"Penso, logo existo”, René Descartes (1596-1650), físico, filósofo e matemático francês, também conhecido pelo seu nome latino Renatus Cartesius, notabilizado por sua contribuição na fusão entre álgebra e a geometria e pela criação do sistema de coordenadas, norteadoras da ciência moderna.
Desnecessário, pois, discorrer sobre o cientista francês e seu legado à humanidade.
Sem a intenção de filosofar, minhas limitações não me permitem, apenas recorro aos estudos do notável cientista para interagir com a realidade que nos ronda nos dias atuais, buscando uma conclusão racional como proposta por ele no Princípio da Dúvida.
Segundo o cientista, “para chegar à verdade, temos de duvidar de tudo”, pois, todas as coisas que apresentam a menor dúvida devem ser tomadas como falsas, até mesmo as coisas mais sensíveis, pois os sentidos podem nos trair.
Portanto, num processo de conhecimento, segundo as dúvidas do filósofo, são necessários análise criteriosa do objeto em estudo, experimentações seguidas de observação dos resultados até uma conclusão racional.
Observe-se que essa busca não visa o atingimento da verdade ou da conclusão racional para si, mas para o curso normal dos acontecimentos, sejam naturais ou artificiais, melhor dizendo, é uma busca pela ordem natural das coisas.
Tenho comigo, com base no raciocínio do filósofo, que sou um agraciado por ter me sido dado o benefício da dúvida, ou seja, ainda posso duvidar, se posso duvidar, inexoravelmente estarei pensando, se penso, logo existo.
Enquanto penso, tomo posse do meu ser, da minha existência e do meu livre arbítrio, essa é uma faculdade outorgada a todos os humanos, parece incrível, mas é verdade, e eis que tal faculdade é tão vital que nossos contemporâneos tentam fazê-lo por nós.
Ao estabelecer limites para o pensamento alheio, com ou sem sua permissão, dá-se vazão à vaidade extrema, gerando um efeito inebriante de viver duas ou mais vidas numa só, emergindo um êxtase supremo causado pela sensação de poder controlar ações e pensamentos de quem quer que seja.
Controlar as ações humanas, incluindo aí o pensamento, sempre foi um desejo dos detentores do poder, seja pela força, seja pela doutrinação ideológica, religiosa e política, contra isso se insurgiram alguns pensadores, muitos ridicularizados publicamente e até queimados nas fogueiras da inquisição em épocas sombrias da humanidade, mas o que realmente inquieta, é que os pensamentos não foram destruídos pelas fogueiras, resistem e incentivam, promovem esperança e estão acessíveis, basta evocá-los.
Muitas armas foram usadas nesse combate insano ao longo da História, desde lanças á censura, desde segregação ao terrorismo, desde a fogueira aos cancelamentos digitais.
O pensamento é humilde, quem pensa não aceita o embate, embora às vezes inevitáveis e necessários, a mentira amparada pelas narrativas tendenciosas é a nova arma contra o pensamento racional, numa tentativa vã de impor limites e argumentos casuístas a fim de se estabelecer uma diáspora incongruente com a evolução do pensamento humano.
Vi recentemente na internet, numa rede social que ainda me é permitida, uma frase atribuída a Elon Musk, o bilionário magnata da tecnologia Tesla e das big tec: “Mentira se combate com a verdade, não com censura”.
Parece que o magnata está fazendo bom uso da sua faculdade de pensar, (como não pensei nisso antes), mas numa frase de simples entendimento expressou um raciocínio lógico que provoca nosso pensamento, bem como os efeitos de pensar.
Sem um raciocínio minimamente lógico, que passe pelo Princípio da Dúvida defendido por Descartes, a humanidade seguirá engatinhando no quesito razão, se submeterá a mais um capítulo sombrio em sua trajetória terrena, desperdiçando mais uma oportunidade de aprendizado amorosamente oferecida pela Criação.
Paz e Luz.
Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais e articulista do Jornal da Cidade GV