Por Marcius Túlio
Trata-se da alcunha ou apelido ou cognome conferido a Rui Barbosa (1849-1923), pelo Barão do Rio Branco (1845-1912), Ministro das Relações Exteriores, em 1907 por ocasião de sua participação na ll Conferência de Paz realizada na cidade de Haia, localizada nos Países Baixos (Holanda), ao defender o princípio da igualdade entre Estados.
É necessário, por justiça sintática, que estabeleça um diferencial, importante em sua referência. O cognome deve ser precedido pelo artigo feminino, pois enaltece a grande ave de visão aguçada e de ações precisase exatas, enquanto se usado o artigo masculino, o sentido é deturpado, conferindo uma conotação pejorativa para referir-se a pessoas dadas à astúcia nefasta, à desonestidade e ao oportunismo.
Jurista, político, escritor, jornalista, filólogo, tradutor e orador brasileiro notabilizado pela extensão de seus conhecimentos, pela habilidade com as palavras e pela profundidade de seus pensamentos expressos em frases de impacto, que hoje podemos considerar visionárias em função de sua correspondência com fatos atuais, Rui Barbosa deixou um legado a ser considerado em vários setores da vida.
“A justiça pode irritar porque é precária. A verdade não se impacienta porque é eterna.” Uma frase atual, pronunciada há mais de 100 anos, que demonstra a grandeza do pensamento “Barbosiano”, digamos assim.
No afã de me situar em meio aos conflituosos acontecimentos hodiernos, especialmente na “Nossa Pátria Mãe Gentil”, bem como me utilizando dos recursos generosos oferecidos pela “santa Internet”, ouso transcrever alguns pensamentos do notável Rui:
“A justiça, cega para um dos lados, já não é justiça. Cumpre que enxergue por igual à direita e à esquerda”;
“Não há judicatura, sem lei que a crie, nem processo sem judicatura, nem sentença sem processo”:
“De atos ilegais não podem emanar consequências legais”;
“O princípio dos princípios é o respeito da consciência, o amor à verdade”;
“A Pátria não é ninguém, são todos”;
“Cada atentado que se tolere à liberdade é um novo alimento que se administra à desordem”;
“A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”;
“Não há nada mais relevante para a vida social que a formação do sentimento de justiça”; dentre muitos outros de notável sabedoria.
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto veragigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” Talvez seja essa frase a mais conhecida nas discursões modernas, a ela dedico um raciocínio personalíssimo que me permito externar.
Os dicionários pátrios definem política como ciência, mecanismo, cortesia e astúcia. Eu por minhas conclusões íntimas e limitadas ouso a acrescentar mais um elemento. Política é uma arte.
O vasto histórico de um bom número de políticos nacionais, podem e devem ser considerados Águia, com o artigo masculino, que se frise, pois ao praticarem a arte da política no sentido masculino da bela ave, usam e abusam da capacidade de fingir, mentir, furtar, roubar, realizar grandes falcatruas, falsificar, trair, desviar, matar, injuriar, caluniar e no final de tudo ainda conseguem o perdão na justiça e nas urnas.
A faceta artística da política, incluindo os perdões alcançados sem restrições enquadraram o Brasil na previsão “Barbosiana”, onde os escândalos financeiros, a corrupção, as falcatruas, roubos e furtos e as traições não mais nos constrangem, ao contrário, são perfeitamente assimilados e passam a compor nosso histórico como nação.
Será que a vergonha explanada pela Águia de Haia chegou a seu ápice sem que nos apercebêssemos ou será que as migalhas nos seduziram ao servilismo?
“O servilismo é de sua natureza instável e revolto: e todas as instituições, todos os usos políticos queconspirarem para aprofundá-lo no ânimo do povo serão outras tantas sementes lançadasa terra pátria para a perturbação da ordem pública.” (Rui Barbosa.)
Paz e Luz.
Marcius Túlio é analista político e Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais