As campanhas de conscientização em saúde são reconhecidas por eleger um mês do ano dedicado a uma dada causa, com o objetivo construir diálogos sobre prevenção e promoção de saúde.
O mês escolhido bem como a cor escolhida marcam uma forma de representatividade e uma simbolização para a causa.
Maio furta-cor é uma dessas campanhas que se dedica à sensibilização pela saúde mental materna. Foi idealizada por Nicole Cristino, psicóloga clínica e perinatal, e Patrícia Piper, Médica psiquiatra, se apresenta como “uma campanha democrática, apartidária e sem fins lucrativos, que visa sensibilizar a população para a causa da saúde mental materna” (MAIO FURTA-COR, 2021).
Pandemia. Isolamento social. Bebês e mães de pandemia, que mal conhecem o mundo lá fora. Escolas fechadas, desemprego, aumento da informalidade, da violência, do desamparo, do adoecimento. Anos duros. Este é o contexto em que a Campanha nasce.
O movimento furta-cor existe com o intuito de transformar a avalanche de dor e sofrimento materno em uma verdadeira onda de cuidado, afeto e legitimação dos sentidos do maternar.
O símbolo possui três elementos fundamentais para a campanha: o laço, a pérola e a concha. O laço é uma famosa referência das campanhas de conscientização, nascida nos anos 90 nos EUA com a campanha da AIDS. A pérola faz alusão ao símbolo do amor e está ligada ao princípio Yin da filosofia chinesa, a feminilidade acolhedora e criativa. A imagem da pérola dentro da sua concha conta sobre o esforço que se faz para adquiri-la, o mesmo esforço que faz parte da busca pela verdade, pelo autoconhecimento.
Só é possível mudar o mundo cuidando de quem cuida de todo o mundo!
A saúde mental materna (SMM) é uma questão de saúde pública, de acordo com o alerta feito pela Maternal Mental Health Alliance (2023), através da campanha "Everyone's Business"1.
O alcance da campanha permite dizer que estamos construindo história e mudando o rumo da assistência à saúde mental materna em nosso país. Somos mais de 300 representantes no Brasil e no mundo e temos mais de 50 leis municipais aprovadas.
Para isso contamos com o engajamento de cada cidadão para que nossa causa se materialize em ações e em políticas públicas de saúde que assistam à integralidade das mulheres-mães. Afinal, a saúde mental materna é uma questão de todos!
Por que precisamos urgentemente falar sobre saúde mental materna?
O fato é que estamos perdendo nossas mulheres, nossas mães não só por morte real, mas também pela morte enquanto vida, muitas desistindo de viver, apenas sobrevivendo, sem dignidade, sem prazer, de forma invisível.
Segundo a OMS, 20% das mulheres terão doença mental durante a gravidez ou pós parto. Hoje já sabemos que o adoecimento psíquico é multifatorial, ou seja, envolve fatores históricos, culturais, sociais e físicos.
Um dos fatores mais importantes e atualmente mais discutidos é a invisibilidade do trabalho de cuidado. Há sobrecarga física e mental do trabalho não remunerado que mina a maternidade e acaba gerando frustração, insatisfação, culpa e a percepção de que o sucesso no papel de mãe depende exclusivamente da mulher.
Quem já não ouviu a frase “quem pariu Mateus que o balance?”. A invisibilidade do sofrimento materno pode comprometer a experiência do período perinatal, a vinculação afetiva da família, gerar maior adoecimento e afastamento laboral, além do impacto financeiro.
Pensando na pluralidade dos estilos de maternar e nas desigualdades sociais e econômicas, entendemos saúde mental materna como uma emergência de saúde pública (OMS, 2022). A falta da rede de apoio nem sempre é o principal problema da mulher; há questões estruturais que atravessam a maternidade: a fome é uma delas.
Pesquisas apontam dados alarmantes relacionados a saúde das mulheres: 830 mulheres morrem todos os dias por complicações relacionadas ao parto em todo o mundo, 34 mulheres por hora, 1 a cada dois minutos. Quando se trata de suicídio materno, aproximadamente quatro mulheres se suicidam no pós parto.
Essa luta não é só pelas mães, mas também pelas crianças que sofrem e são impactadas diretamente por tais condições. Não existe saúde sem saúde mental.
Saúde mental materna: assunto de todas e todos!
Não é possível promover saúde mental materna e transformar a desassistência atual sem a construção de políticas públicas de saúde e leis que amparem e assistam às mulheres-mães.
Visando garantir assistência integral e a criação de políticas públicas que envolvam a atenção a saúde mental materna, em 04 de maio de 2023 foi criada a Lei nº 7510 que instituiu o mês maio furta-cor com ações de conscientização, incentivo ao cuidado e promoção da saúde mental materna.
É comprovado que transtornos mentais maternos são passíveis de manejo e tratamento por meio de políticas de saúde pública que visem a prevenção, intervenção e pós-intervenção.
A onda furta cor Governador Valadares é um movimento que deriva da Campanha Maio Furta-cor e se propõe a realizar ações de conscientização ao longo de todo o mês de maio, momento em que celebramos nacionalmente o mês das mães.
Convidamos você a fazer parte da onda Furta-cor! Só é possível mudar o mundo cuidando de quem cuida de todo o mundo. Se importe com a mãe. Assuma essa causa.
NOTA 1 https://maternalmentalhealthalliance.org/campaign/
Sobre a autora:
A psicóloga Lídia Brandes é representante do Maio Furta-Cor em Governador Valadares desde 2022 e especialista em Psicologia Perinatal e mestra em Gestão Integrada do Território. Com 14 anos de experiência na área, ela atua também como professora no ensino superior e dedica-se ao acolhimento de mães e famílias, unindo ciência, cuidado e saúde mental. Sua vivência como mãe a inspirou a transformar sua paixão em um trabalho significativo para a comunidade local.
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