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Fundação Ezequiel Dias adota nova ferramenta para análise laboratorial que otimiza o diagnóstico da leishmaniose tegumentar

Iniciativa garante diagnósticos mais rápidos e confiáveis, garantindo agilidade no tratamento da doença
A implantação da tecnologia no Lacen-MG foi oficializada internamente há duas semanas. Foto: Janaína Santos / Funed
quinta-feira, 19 junho, 2025

A leishmaniose tegumentar (LT) é uma doença infecciosa, não contagiosa, transmitida pela picada de mosquitos flebotomíneos, popularmente conhecidos como mosquito-palha, infectados por protozoários do gênero Leishmania.

A doença é uma zoonose, ou seja, afeta animais silvestres e domésticos, e pode ser transmitida aos seres humanos em áreas silvestres, rurais e periurbanas.

A apresentação clínica da LT é variável, desde lesões cutâneas isoladas até formas mucosas e disseminadas.

As lesões de pele normalmente se manifestam como úlceras com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolores, que podem evoluir para quadros graves se não houver tratamento adequado.

Fundação Ezequiel Dias (Funed), por meio do Laboratório Central de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (Lacen-MG), vinculado à Diretoria do Instituto Octávio Magalhães (Diom),realiza os exames laboratoriais essenciais para o diagnóstico da doença.

Nos últimos três anos, a Diom, em conjunto com a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da Funed, desenvolveu uma nova ferramenta que utiliza a qPCR (Reação em Cadeia da Polimerase), possibilitando a detecção do material genético do parasito causador da leishmaniose tegumentar diretamente na amostra do paciente.

Segundo o pesquisador da DPD ,Job Alves de Souza Filho,um dos responsáveis pela inovação, esses estudos resultaram em uma ferramenta que reconhece com maior precisão e sensibilidade o material genético das espécies causadoras da forma tegumentar da doença.

O pesquisador faz uso de uma analogia para explicar a inovação, comparando-a com uma “câmera com inteligência artificial, em um aeroporto lotado, treinada para reconhecer o rosto de um criminoso específico”. Neste caso, a nova metodologia proposta localiza o DNA do parasito da enfermidade.

“No caso dos aeroportos, mesmo entre milhares de pessoas, é possível identificar o alvo com precisão se ele passar pela câmera”, compara. Do mesmo modo, o novo primer TL-82 detecta com exatidão o DNA do parasito causador da leishmaniose tegumentar em meio a milhões de outras sequências, sem confundir com nenhum outro. ”Isso permite identificar casos que antes passavam despercebidos com o primer antigo”, ressalta Job Alves.

O pesquisador Sérgio Caldas, coordenador do Serviço de Pesquisa em Doenças Infecciosas (SPDI) da Funed, também responsável pela inovação, destaca que o novo primer, uma pequena sequência de nucleotídeos de DNA que serve como ponto de partida para a replicação do material genético pela enzima polimerase, demonstrou ser 149 vezes mais eficiente na detecção do DNA do parasito.

“Testes demonstraram que o número de casos positivos identificados dobrou em comparação ao primer anterior. Isso significa diagnósticos mais rápidos e confiáveis, especialmente em pacientes com baixa carga parasitária”, ressalta.

De acordo com diretor do IOM, Glauco de Carvalho, como o novo primer para identificação da LT, utiliza a mesma estrutura de qPCR já disponível nos laboratórios, o Lacen-MG, em termos operacionais e de custo, não necessita de investir em novos equipamentos ou em insumos caros.

“A única necessidade é substituir o primer. Incremento esse que gerará uma melhoria significativa nos resultados, sem aumento expressivo de custos”, comenta o diretor.

A implantação da tecnologia no Lacen-MG foi oficializada internamente há duas semanas.

“Vale ressaltar que a instituição é referência não apenas nacional, mas também um dos laboratórios mais avançados no diagnóstico da leishmaniose no mundo, considerando os fluxos inovadores estabelecidos na Fundação. O próximo passo é a ampliação do uso, além da articulação com o Ministério da Saúde para a possível atualização de protocolos nacionais”, explica Glauco.

Segundo a diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Funed, Irene Arantes, a proposta é transformar essa tecnologia em um kit comercial padronizado para distribuição junto aos demais Lacens do país.

“Essa iniciativa serve de exemplo de como a integração entre a pesquisa e o serviço público podem caminhar juntos. Afinal,trata-se de uma inovação científica com impacto direto na saúde da população, uma vez que permite acesso ao diagnóstico sensível e específico da leishmaniose tegumentar no SUS”, comenta Irene.

Segundo a chefe do Serviço de Doenças Parasitárias (SDP) da Funed, Letícia de Azevedo Silva, a leishmaniose tegumentar é uma doença tropical negligenciada e de notificação compulsória, em que todo caso confirmado deve ser investigado pelos serviços de saúde.

Ainda de acordo com Letícia, o diagnóstico da LT é baseado em fatores clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, sendo que os exames laboratoriais são de extrema importância para a confirmação da infecção e para o diagnóstico diferencial.

“O SDP realiza o diagnóstico da LT por meio do exame parasitológico direto (EPD) e da qPCR. Apesar de muito específico, o EPD tem menor sensibilidade na identificação de casos positivos, pois sofre interferência da carga parasitária e da experiência do microscopista para a visualização do parasito na amostra. O fluxo diagnóstico atual em Minas Gerais prevê a realização do EPD e, persistindo a suspeita clínica com resultado de EPD negativo, a amostra pode ser enviada ao Lacen para confirmação diagnóstica por qPCR", explica. Assim, o diagnóstico rápido e preciso é fundamental para o tratamento específico e oportuno da doença. "Essa nova ferramenta aprimora o diagnóstico da LT em MG e impacta diretamente na saúde das populações vulneráveis à infecção, especialmente em áreas endêmicas", reforça. 

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