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Câncer de ovário: neoplasia silenciosa exige atenção aos sinais iniciais

Oncologista do NEO alerta sobre sintomas, diagnóstico precoce e avanços no tratamento da doença
Dr. André de Vasconcellos - Oncologista Clínico do NEO. Foto: Divulgação NEO
quarta-feira, 7 maio, 2025

Nesta quinta-feira, dia 8 de maio, é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Ovário, uma das neoplasias ginecológicas mais letais entre as mulheres. No Brasil, é o segundo tipo de tumor ginecológico mais comum, ficando atrás apenas do câncer do colo do útero. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o país registra cerca de 7.310 novos casos da doença anualmente.

Apesar da gravidade do tumor muitas mulheres desconhecem os sintomas, o que contribui para o diagnóstico tardio.

O oncologista clínico Dr. André de Vasconcellos, do Núcleo de Especialistas em Oncologia (NEO), chama atenção para o câncer de ovário, um dos tumores ginecológicos mais desafiadores do ponto de vista diagnóstico e terapêutico.

“Trata-se de uma neoplasia frequentemente silenciosa, cujos sintomas iniciais são vagos e facilmente confundidos com outras condições. Por isso, a maioria das mulheres recebe o diagnóstico em estágios avançados, quando o tratamento já é mais complexo e com menor chance de cura”, explica.

Sinais e sintomas

Os sintomas do câncer de ovário podem ser sutis no início, mas sua persistência deve motivar investigação médica.

“Entre os principais sinais estão dor abdominal ou pélvica persistente, inchaço ou distensão abdominal, sensação de saciedade precoce, perda de apetite, alterações menstruais, sangramento vaginal fora do ciclo, dor durante a relação sexual, perda de peso inexplicada, além de mudanças nos hábitos urinários e intestinais”, esclarece Dr. André de Vasconcellos.

O médico reforça a importância de a mulher estar atenta aos sinais.  Segundo ele, a chave para o diagnóstico precoce está na observação contínua do próprio corpo.

“Muitas vezes, esses sintomas são atribuídos a questões digestivas ou hormonais. Mas, se forem persistentes ou se agravarem, é essencial procurar o ginecologista ou oncologista. O tempo é um fator crítico para o sucesso do tratamento”, adverte.

Tratamento

O tratamento do câncer de ovário deve ser personalizado, sendo definido pelo estágio da doença e as características individuais da mulher. Isso inclui idade, histórico familiar, tipo específico do tumor e possíveis mutações genéticas. Com os avanços da medicina de precisão, é possível identificar alterações genéticas que tornam alguns tratamentos mais eficazes para determinados casos. Assim, em vez de seguir um modelo único, o médico pode escolher a melhor estratégia para cada paciente, aumentando as chances de sucesso e reduzindo os efeitos colaterais.

É o que explica o Dr. André de Vasconcellos, “definimos o tratamento baseado no estágio do tumor, do tipo histológico, da presença de mutações genéticas e do estado clínico da paciente. Os principais protocolos incluem cirurgia citorredutora e a quimioterapia com carboplatina e paclitaxel. Em casos específicos, terapias-alvo como os inibidores de PARP têm se mostrado eficazes, especialmente em pacientes com mutações BRCA1 ou BRCA2, ou deficiência de recombinação homóloga (HRD)”, disse.

Outros tratamentos, como a hormonioterapia (uso de bloqueadores hormonais como antiestrogênicos), podem ser indicados para subtipos específicos, como os tumores de baixo grau. A radioterapia, por sua vez, é menos utilizada, mas pode ter papel paliativo.

Prevenção, diagnóstico e redução de riscos

A prevenção ao câncer de ovário é um desafio. Ainda não há exames eficazes para rastreamento, no entanto, algumas medidas podem reduzir o risco ou favorecer o diagnóstico precoce.

A ginecologista e obstetra, Dra. Nathália Machado, reforça a importância da mulher cuidar da saúde com consultas regulares e exames como ultrassonografia transvaginal e dosagem do marcador CA-125, úteis em contextos de risco aumentado de câncer de ovário ou quando há sintomas persistentes da doença.

A médica salienta, que “o uso prolongado de contraceptivos orais (por mais de cinco anos), pode reduzir o risco do tumor em até 50%. Indicamos a salpingo-oforectomia profilática, retirada preventiva dos ovários e trompas, para mulheres com mutações genéticas de alto risco, depois que não desejam mais ter filhos. Acompanhamento genético e clínico individualizado, especialmente em casos com histórico familiar de câncer de ovário ou mama”, informou a ginecologista.

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Dra. Nathália Machado - Ginecologista e Obstetra. Foto: Divulgação NEO

A nutricionista oncológica do NEO, Cássia Ambrósio, reforça que a prevenção também passa por um estilo de vida mais saudável.

“Manter um estilo de vida saudável é fundamental na prevenção do câncer de ovário. Uma alimentação rica em frutas, vegetais, fibras, gorduras boas e pobres em alimentos ultraprocessados pode reduzir significativamente os riscos. Além disso, é essencial manter o peso corporal adequado, praticar atividades físicas regularmente, manter-se hidratado e controlar o estresse. Todos esses fatores colaboram para o bom funcionamento do sistema imunológico, equilíbrio hormonal e redução de inflamações no organismo. A prevenção começa nas escolhas diárias.”, informou a especialista em nutrição oncológica.

“O câncer me escolheu, mas escolheu a garota errada”, diz jovem que superou diagnóstico de câncer de ovário aos 23 anos”

Com um olhar doce, sorriso largo e uma fé que parece inabalável, Letícia Nascimento Paoli, hoje com 26 anos, transformou um dos momentos mais difíceis de sua vida em combustível para recomeçar. Aos 23 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de ovário — um baque inesperado que, nas palavras dela, “parecia surreal”.

“Foi um choque”, relembra Letícia. “Eu sentia dores pélvicas, meu abdômen estava inchado e rígido, havia também um desconforto intestinal. Fui ao médico, fiz exames e veio a notícia: câncer de ovário. Eu não sabia quase nada sobre a doença, nem sobre o tratamento. O medo tomou conta no começo.”

A trajetória de Letícia com questões ginecológicas, no entanto, começou bem antes do diagnóstico do câncer.

“Minha história com doenças ginecológicas começou aos 12 anos, quando fui diagnosticada com um cisto no ovário. Até os 15 anos, fazia acompanhamento com ginecologista e ultrassons regularmente. Mas depois parei, deixei pra lá. Eu não dava a devida importância ao cuidado com minha saúde”, conta.

O tratamento envolveu cirurgia e sessões de quimioterapia, o que exigiu dela mais do que resiliência física, foi também um enfrentamento emocional e espiritual.

“Quando o oncologista me falou sobre quimioterapia e cirurgia, confesso que fiquei insegura. Não sabia o que esperar. Mas encarei tudo com muita coragem. O câncer não me paralisou. Pelo contrário, me fez ver a vida com outros olhos. Eu fui acometida por um câncer, mas eu não sou um câncer. Ele escolheu a garota errada”, afirma.

Atualmente, Letícia leva uma vida ativa, embora siga com o acompanhamento médico.

“Tenho 26 anos e levo uma vida normal. Continuo em tratamento, com acompanhamento a cada três meses no NEO, fazendo consultas e exames. Tenho sonhos, planos e muita vontade de viver. A fé foi minha força e continua sendo. E quero que outras pessoas saibam: diagnóstico de câncer não é uma sentença de morte.”

A experiência trouxe a Letícia uma missão: acolher e inspirar outras pessoas que enfrentam o mesmo desafio.

“A todas as mulheres que estão passando pelo tratamento do câncer de ovário eu digo: não se entregue ao medo. Você não é sua doença. Enfrente se cerque de amor e fé, e saiba que é possível vencer. O câncer pode até chegar de forma silenciosa, mas a nossa força pode ser mais barulhenta que ele.”

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Letícia Nascimento - Paciente com câncer de ovário. Foto: Divulgação NEO

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