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A decadência ideológica do MST

O MST entrou em um claro processo de decadência ideológica junto à opinião pública e não encontra apoio popular significativo
Imagem ilustrativa da Internet mostrando uma cerca de propriedade rural, ícone do chamado Massacre de Eldorado do Carajás, que resultou na morte de 21 pessoas. Foto: Arquivo da Agência Brasil
quarta-feira, 23 abril, 2025

Por Wilson Pedroso*

Todos os anos, no mês de abril, o MST intensifica as ações em busca de maior visibilidade para a agenda da reforma agrária no Brasil. O período é escolhido para relembrar o chamado Massacre de Eldorado do Carajás, que resultou na morte de 21 pessoas. Mas o fato é que, apesar do forte potencial de apelo social, o movimento entrou em um claro processo de decadência ideológica junto à opinião pública e não encontra apoio popular significativo.

Essa percepção foi confirmada por meio de recente levantamento do Instituto de Pesquisa Realtime Big Data. O resultado mostrou que apenas 32% dos brasileiros declaram estar de acordo ou apoiar as demandas no MST. Por outro lado, 66% afirmaram ser contrários às pautas do movimento, enquanto 2% não souberam ou não quiseram responder.

O Realtime Bigdata também quis saber se o Governo Federal deve ajudar o MST. À essa pergunta, 62% responderam “não” enquanto apenas 29% disseram “sim”, sendo que 9% não opinaram. Para finalizar, 70% dos cidadãos consultados acreditam que o apoio do governo ao movimento sem terra não deve ajudar Lula nas eleições presidenciais de 2026. Apenas 22% consideram que o apoio é eleitoralmente positivo e 8% não responderam.

A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. No total, 1200 pessoas foram ouvidas entre os dias 15 e 16 de abril, em todas as regiões do país. Se considerarmos que Lula venceu as últimas eleições com mais de 50% dos votos, na prática a pesquisa nos mostra que, mesmo para uma camada dos eleitores com perfil ideológico de esquerda, a imagem do MST é negativa.

A falta de apoio popular ao movimento sem terra pode ser explicada por meio da análise de sua evolução histórica. O MST nasceu na década de 80, defendendo a reforma agrária por meio da distribuição de terras ociosas a trabalhadores rurais. Na teoria, a mensagem era irretocável, mas ela acabou se perdendo na execução prática e as ocupações violentas ocorridas com o passar do tempo conferiram alta carga negativa ao MST.

Ainda estão vivas na memória das pessoas as notícias sobre propriedades invadidas como, por exemplo, as fazendas da família do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da empresa Suzano Papel e Celulose. Além disso, também vieram a público as listas com nomes das pessoas à espera de serem assentadas, manipuladas pelo movimento para participação de atos organizados. Tais erros de estratégia fizeram nascer entre os brasileiros o conceito de que o MST é político e radicalizado.

Mesmo assim, Lula não abre mão de sua ligação com o movimento e tem atuado para beneficiá-lo no atual mandato. Ele acredita que o MST seja um apoio importante para 2026, mas essa pode ser uma jogada arriscada, especialmente quando precisar sair em busca de votos dos eleitores de centro e indecisos. Não estamos mais na década de 80, os tempos mudaram. E os cidadãos brasileiros sabem disso.

Sobre o autor

Wilson Pedroso é analista político e consultor eleitoral, com MBA nas áreas de Gestão e Marketing

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