Volta do ensino médio regular no Tito Fulgêncio é defendida

Em visita da Comissão de Educação, comunidade escolar reivindica ainda que essa modalidade seja oferecida, e não só o ensino tem tempo integral
Dezenas de membros da comunidade escolar prestigiaram a visita da comissão. Foto: Willian Dias/ALMG
terça-feira, 2 abril, 2024

A volta de turmas do ensino médio regular paralelamente à continuidade da oferta de turmas desse nível de ensino em tempo integral, de modo que os estudantes possam optar por uma ou outra modalidade.

Essa foi a grande mensagem transmitida por toda a comunidade escolar da Escola Estadual Tito Fulgêncio, no bairro Renascença, região nordeste da Capital, nesta segunda-feira (1º/4/24), na visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia.

Estudantes, ex-alunos e seus pais, professores e servidores do estabelecimento expressaram sua insatisfação no encontro promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento da deputada Beatriz Cerqueira (PT), presidenta dessa comissão.

A comunidade criticou o encerramento das turmas de ensino médio regular, o que fez com que muitos estudantes se transferissem para outras escolas ou, o que é o pior, parassem de estudar.

O aluno Josué Santos, do 3º ano do ensino médio, criticou a forma como o ensino médio em tempo integral (EMTI) foi implantado no Tito Fulgêncio, sem nenhuma discussão com os estudantes e com a comunidade.

Ele relatou que tem vários irmãos pequenos e precisa ajudar sua mãe a tomar conta deles, já que seu pai trabalha o dia todo. “O ensino integral não é ruim, mas num país como o Brasil, não funciona tão bem, porque temos menores de idade que precisam contribuir com dinheiro em casa”, relatou.

Além disso, destaca, da maneira como é ministrado, o EMTI não ajuda o jovem a preparar seu futuro: “Vou sair pra fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nem com o currículo vazio e vou chegar atrasado ao mercado de trabalho, porque não fiz o ensino técnico”.

Por fim, disse se sentir pressionado e cansado por ter que ficar na escola das 7 horas às 16h40, sem vislumbrar a possibilidade de um aprendizado que lhe seja realmente útil. Por tudo isso, defendeu que o ensino integral seja uma opção e que o ensino regular também seja oferecido.

Já a ex-aluna Marina Silva, relatou que foi obrigada a sair dessa escola e procurar outra que oferecesse o ensino médio regular, já que precisa procurar trabalho. Por outro lado, revelou que, quando chegou ao Tito Fulgêncio, ficou nervosa com medo de ser rejeitada, mas foi bem acolhida na escola.

Escola tentou implantar tempo integral, mas não funcionou

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Natália de Sá, professora da Escola Estadual Tito Fulgêncio. Foto: Willian Dias/ALMG

Há quase dez anos na escola, a professora Natália de Sá, lembrou que acompanhou vários alunos desde pequenos no Tito Fulgêncio e lamentou que muitos deles agora estão sendo obrigados a ir para outros estabelecimentos. Também registrou que, apesar de a comunidade escolar não ter sido consultado, tentou-se implantar o EMTJ da melhor forma possível.

“Aqui no Tito Fulgêncio, o ensino médio em tempo integral não funcionou; num país como o nosso, ter um aluno em um turno numa escola já é um ganho; a nossa comunidade não consegue deixar os filhos em dois turnos; precisamos resolver isso”. Professora Natália de Sá

O professor Elias Oliveira acrescentou que as promessas contidas no novo ensino médio não se concretizaram: “Não temos infraestrutura nem condições adequadas de higiene e conforto para os estudantes”. Esse quadro, afirma, compromete a saúde mental dos docentes.

“A gente só tem dor para contar e os alunos percebem isso”, disse. Com tudo isso, disse ele, os professores resistem: “Já somos vencedores por estarmos lutando, porque ninguém vai fazer isso por nós. Mas não podemos viver só na resistência; temos que avançar!”, concluiu.

Outro professor do estabelecimento, Fernando Pimentel, informou que atualmente, existem apenas quatro turmas de ensino médio, todas em tempo integral, além de quatro turmas de ensino fundamental regular. “Não está fácil trabalhar aqui, pois não somos informados de nada pela Secretaria de Estado de Educação”, lamentou.

Rubens Teixeira, pai de aluno do Tito Fulgêncio e membro da Associação Comunitária do Bairro Concórdia, na região, reconheceu que a escola agrega muito à comunidade, por atender a uma grande área que abrange vários bairros além de Concórdia e Renascença.

Ele revelou a preocupação da população local com a possibilidade de encerramento das atividades da unidade. “Onde vamos recepcionar esses adolescentes, que precisam estar preparados para o mercado de trabalho ou ter a formação teórica para participarem do Enem”, reverberou.

Fechamento de escolas é política de governo

Robson Silva, morador do Concórdia, destacou que o Tito Fulgêncio não é a primeira escola com risco de ser fechada pelo Governo de Minas em função do mesmo problema: a imposição do ensino médio em tempo integral.

“Vemos o desespero dos profissionais com esta política do Estado de reduzir o número de escolas”, disse ele, defendendo a luta pela manutenção dessa escola e da educação pública e de qualidade.

Também presente, Denise Romano, coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, informou que visitou a escola em 2023 e a situação já era crítica.

“Esses problemas fazem parte de uma política do Governo de Minas, que quer obrigar os alunos a ficarem o dia inteiro na escola; mas a educação integral não pode ser imposta, tem que ser construída”, avaliou.

Na visão dela, a formatação do ensino médio obrigou os alunos ao regime integral, com itinerários eletivos sem objetivos claros.

“A escola deve preparar para o mercado de trabalho e também para as universidades; mas do jeito que está estruturada, não prepara para nada”, condenou. Por fim, ela idealizou um modelo de “escola em que caiba todo mundo, onde todos tenham condições de sonhar, preparando-se para entrar numa das 14 universidades federais do Estado”.

Audiência pública

Ao final da visita, a deputada Beatriz Cerqueira apresentou como principal encaminhamento a realização de uma audiência pública na ALMG para tratar do mesmo tema, com a participação, não apenas da comunidade escolar, mas de representantes da SEE e de outros do governo.

Ela analisou que os dois modelos de ensino médio, o regular e o integral, podem coexistir nas escolas. E que oferecer apenas o ensino integral é uma opção do governo, apesar de já haver lei estadual que ampara a escola no seu direito de manter as duas modalidades.

“Conseguimos fazer um balanço do ensino médio em tempo integral; e verificamos que a comunidade local tentou, mas ao final confirmou que esse modelo não funciona aqui”, completou. Na opinião dela, as políticas públicas é que têm que se adequar a cada comunidade, não o contrário.

Com informações do site oficial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

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