As chuvas abaixo da média histórica têm agravado a situação hidrológica na Bacia do Rio Doce.
A situação já obrigou os mais de 135 municípios mineiros a decretarem situação emergência hídrica em virtude da estiagem.
O dado representa 15% do Estado, segundo dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec).
O cenário é alarmante e tem preocupado os Comitês da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, que, por meio de iniciativas hidroambientais, têm trabalhado para minimizar os impactos da crise hídrica.
Estiagem Histórica
A Bacia Hidrográfica do Rio Doce vem enfrentando períodos de estiagem cada vez mais severos, fazendo com que a vazão dos principais cursos d’água e reservatórios fiquem abaixo das médias históricas.
Em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, às margens do Rio Doce, já é possível se deparar com longos trechos de bancos de areia onde deveria ter água.
O cenário também se repete em outros municípios. O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH Doce), José Carlos Loss, afirma que o momento é de ações em conjunto.
“Atualmente, a gente convive com uma vazão reduzida, em torno de 120m/3 s. Ou seja, bem abaixo do que se espera da média mínima, que gira entre 200m3/s e 230m3/s. E, além de trabalharmos o tema no âmbito da câmara técnica de eventos críticos, o momento é de ações em conjunto com a população, produtores rurais e indústrias, que precisam fazer a sua parte também. Todos os setores se tornam aliados importantes para enfrentarmos esse problema”, diz.
Nível do Rio Doce preocupa Comitês da Bacia do Rio Doce. Foto: Cata Caldeira
De acordo com Loss, a crise hídrica não é culpa só da falta de chuvas. O desmatamento, a destruição de nascentes, a poluição das indústrias, assoreamento dos rios e o aumento significativo das queimadas são determinantes para o grave desequilíbrio hidrológico enfrentado no território.
“A Bacia do Rio Doce já vem sendo castigada com a degradação, histórico de ocupações irregulares e uso incorreto do solo, além de desmatamentos. Todos esses agravantes prejudicam o ciclo natural de infiltração de água no solo. É importante frisar que temos um Plano Integrado de Recursos Hídricos (PIRH Doce), que, por meio de um diagnóstico sucinto, auxilia a identificar esses problemas e atua na revitalização da bacia. Muitas ações já foram concretizadas e outras estão em andamento. O objetivo é conseguir, a médio e longo prazo, reverter esse cenário de escassez hídrica, usando os recursos da cobrança de forma mais assertiva por meio de projetos estruturados”, afirma.
Loss também preside a Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos (CTGEC), anteriormente denominada Câmara Técnica de Gestão de Cheias da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
Cabe à CTGEC propor diretrizes, planos e programas para monitorar e prevenir os efeitos dos eventos críticos na área da Bacia do Rio Doce, analisar mecanismos de articulação e cooperação entre o poder público, os setores usuários e a sociedade civil e acompanhar estudos, projetos e ações relacionadas com a ampliação, modernização e integração do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM).
O SGB/CPRM é responsável pelo monitoramento da Bacia do Rio Doce, e, desde fevereiro, tem alertado para o cenário crítico de estiagens.
“O período de chuvas entre 2023 e 2024 foi marcado por precipitações abaixo da média na Bacia do Rio Doce. Além disso, o período de estiagem atual começou um pouco mais cedo, o que reflete diretamente nos níveis dos rios, prolongando os episódios de baixa vazão na Bacia do Rio Doce. Apesar dos níveis não serem tão extremos, a situação atual requer acompanhamento e atenção, pois como ainda estamos em período de vazante, é necessário acompanharmos a evolução do cenário tendo em vista a escassez de chuvas na região. A previsão de precipitações é para acontecer somente no fim de setembro”, explicou o pesquisador em geociências, Bernardo Oliveira, responsável pela operação do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do Rio Doce (SAH Doce).
Proteção das Nascentes é o Caminho
Responsáveis pela manutenção dos rios e córregos, as nascentes são essenciais para garantir a qualidade e quantidade de água na bacia.
Através da Iniciativa Rio Vivo mais de 1.300 nascentes já foram cercadas. Foto: CBH Doce
Por meio da cobrança pelo uso da água, os Comitês da Bacia do Rio Doce têm aportado investimentos na melhoria da disponibilidade hídrica.
A iniciativa Rio Vivo, que reúne ações de controle das atividades geradoras de sedimentos, proteção de nascentes e APPs e expansão do saneamento rural vêm apresentando resultados significativos na bacia.
Até o momento, mais de 1.300 nascentes já foram cercadas na bacia. Mais de R$120 milhões já foram destinados pelos Comitês para execução das ações.