Logo Jornal da Cidade - Governador Valadares

Nova classificação CIF deve trazer maior eficiência ao SUS

Em audiência nesta terça (25), profissionais de várias áreas da saúde apresentam sugestões quanto à nova sistemática, que poderão integrar o PL 1.109/23
Deputado Lucas Lasmar com convidados da audiência pública. Foto: Willian Dias/ALMG
terça-feira, 25 junho, 2024

Facilitação da comunicação entre profissionais, áreas e unidades distintas da saúde, por meio da conectividade dos sistemas; perspectiva de humanização e maior capacitação para esse setor; e consequente melhoria da eficiência do atendimento e redução de gastos.

Em síntese, essas foram as principais vantagens apontadas com a implantação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), no Sistema Único de Saúde (SUS).

Essa constatação foi consenso entre profissionais de saúde de várias formações que participaram de audiência pública da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (25/6/24).

A reunião foi solicitada pelo deputado Lucas Lasmar (Rede), que é autor do Projeto de Lei (PL) 1.109/23, o qual institui a Política Estadual de Saúde Funcional, baseada na CIF.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

De acordo com ele, a CIF é um modelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que promove uma abordagem ampla, detalhada, inclusiva e eficiente na saúde pública, centrada na pessoa, e não apenas na doença.

A classificação ainda considera fatores pessoais e ambientais, proporcionando dados completos para planejamento e execução das políticas de saúde.

O Brasil ainda utiliza a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), que não trabalha todo o contexto dos problemas de saúde, prejudicando a eficiência dos serviços.

Comunicação

Para Daniela Ferreira, vice-presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 9ª Região (CRN9), a implantação do CIF, apesar de chegar tarde – o sistema foi criado em 2001 –, vai melhorar a troca de informações entre os diversos especialistas que lidam com pacientes no SUS. 

A CIF também permitirá categorizar esses usuários de acordo com a gravidade da doença e da situação atual deles, dando-lhes o atendimento devido.

Além disso, a implantação da nova sistemática vai reduzir a subjetividade, na avaliação da gestora, com todos os profissionais falando a mesma língua. 

“Vemos muitas vezes que um profissional não sabe o que o outro faz, por falta de integração dos sistemas”, detectou. Ela sugeriu que o conteúdo sobre a CIF seja implantado nos currículos dos cursos de graduação em Nutrição e de outros.

Regina Dutra, diretora do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, exemplificou com o que acontece atualmente na Emergência de hospitais da Capital. Segundo ela, muitas vezes, o primeiro atendimento de crianças acontece no Risoleta Neves.

Como não conta com pediatria, elas são transferidas para o João XXIII, mas chegam sem os exames

“Aí, temos que fazer de novo os exames, muitos deles expondo as crianças à radiação novamente e desperdiçando-se recursos”, lamentou. Por isso, ela defendeu o projeto 1.109/23, considerando-o aderente ao projeto em estudo no SUS de prontuário único.

Já Débora Miranda, professora de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, avalia que “o CIF vai permitir que todos os profissionais falem a mesma língua, cada um com sua visão”. 

Ela ressalvou, no entanto, que o CIF deve ser agregado à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) e não substituir essa última.

“É ótimo que a CIF venha, de forma complementar, pois vai enriquecer o processo”, opinou ela, registrando que Itália e Alemanha já utilizam essa classificação no sistema de saúde. 

Conselho de Fisioterapia utiliza CIF em cidades mineiras

Raquel Campelo, da Comissão Regional do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito-4) MG, destacou que desde 2015, o órgão tenta levar a CIF para várias cidades mineiras.

Citou protocolo da CIF utilizado em Alfenas (Sul), com o objetivo de desafogar a fila do SUS.

“Usamos a CIF como base e modelo teórico para tudo que pensamos em termos de intervenção em nossa profissão”, ressaltou. E acrescentou que a classificação já auxilia muito o fisioterapeuta:

“Recebemos diagnóstico de pacientes baseado na CID - que não deve ser retirada -, mas precisamos de mais elementos para provar o benefício da terapia que propomos”, relatou.

Nesse sentido, Samuel Morais, diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), complementou que o CIF poderá ser bem utilizado na Central de regulação do SUS, para atender quem mais precisa primeiro: “Deve-se centrar no paciente, não na doença e nem em um único profissional”. 

Prontuário unificado

Cleso Guimarães, assessor da Diretoria do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG), lembrou que o órgão está estudando a implantação de um prontuário unificado e a CIF pode oferecer subsídios nesse sentido. 

Também informou que o prontuário de todos os pacientes do SUS vai ser unificado, tanto na saúde pública quanto na privada e, da mesma forma, o CIF vai ajudar na busca de uma linha de cuidado para os pacientes. Ele propôs ainda que o estudo dessa classificação seja incluído na graduação dos estudantes da saúde.

Por sua vez, Antônio Coquito, assessor do CRO-MG, elogiou a CIF, considerando-a importante numa perspectiva de humanização e convergência para a saúde, a ser transmitida aos gestores.

Por fim, Renato Barros, presidente o Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde), avaliou que a classificação vai ajudar os profissionais na medida em que será aprimorada a organização do sistema, tanto na atenção primária quanto na secundária.

Conectividade

O deputado Lucas Lasmar destacou que a CIF, abordada em seu PL, é um assunto novo na ALMG e que por isso, foi importante ouvir profissionais de várias áreas da saúde, de modo a melhorar a proposta.

E que a audiência desta terça representou um ponta-pé inicial na discussão, que deverá ter continuidade com outras reuniões com a participação de secretários municipais de saúde e outros envolvidos.

Ele lembrou que o SUS adotará no futuro a gestão plena para todos os municípios.

“Como vamos definir o que é mais urgente? Pelo CIF, para fazer uma análise do que é mais adequado”, apostou. Refletiu ainda que um grave problema da saúde em Minas Gerais é a conectividade dos sistemas:

“Cerca de 90% dos municípios não se comunicam, o que gerando gastos desnecessários; o SUS Fácil não consegue integrar os sistemas”.

Com informações do site oficial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

Gostou? Compartilhe...

Leia as materias relacionadas

magnifiercrossmenu