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Comunidade escolar do Tito Fulgêncio cobra a volta do ensino médio parcial diurno

Professores e outros funcionários, além de alunos e pais reclamam da adoção exclusiva do ensino integral; Secretaria diz que dará resposta em agosto
Alunos, pais e professores trouxeram cartazes para reivindicar a volta do ensino médio parcial. Foto: Willian Dias/ALMG
sexta-feira, 21 junho, 2024

A volta da oferta do ensino médio parcial e diurno na Escola Estadual Tito Fulgêncio, no bairro Renascença, região nordeste da Capital, foi a maior reivindicação apresentada em reunião da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, solicitada por sua presidenta, deputada Beatriz Cerqueira (PT).

Professores e outros funcionários do estabelecimento, além de alunos e seus pais, bem como moradores dessa comunidade participaram da mobilização na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta sexta-feira (21/6/24). 

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

Professora do Tito Fulgêncio há cerca de dez anos, Natália de Sá lembrou que a escola tem quase 80 anos oferecendo educação pública de qualidade. 

Historiou que em 2020, durante a pandemia, a unidade foi sorteada pelo Governo de Minas para que fosse implantado o ensino médio de tempo integral (EMTI), mas a comunidade escolar não foi consultado em nenhum momento. 

Como fruto da implantação, o número de alunos caiu drasticamente, afirmou. Antes da pandemia, havia 283 estudantes em 10 turmas do ensino médio regular e hoje são aproximadamente cem alunos em quatro turmas. 

“A evasão escolar deve ser discutida; os alunos estão saindo porque precisam, não porque querem; é a condição social que escolhe por eles”, reforçou.

Por fim, a professora resumiu que a necessidade da comunidade é a volta do ensino médio parcial, de apenas um turno. 

Reforçou que a reivindicação foi formalizada à Secretaria de Estado de Educação (SEE), com envio ainda de um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas de integrantes da comunidade escolar.

Conteúdos questionáveis

O professor Luiz Messeder acrescentou que no EMTI há conteúdos bastante questionáveis, o que também é um desestímulo para os alunos.

Lembrou ainda que uma das premissas do novo sistema é o direito de escolha, negado aos estudantes do Tito e a toda essa comunidade escolar.

Realçou que o processo de esvaziamento ocorre em outras escolas estaduais, como a do bairro Pindorama e o Colégio Estadual Central.

Além de afetar os estudantes, afeta ainda os professores e outros funcionários, que ficam com menos turmas, o que redunda em piora na remuneração.

Já o professor Fernando Esteves deixou como único pedido a volta do ensino médio parcial no Tito Fulgêncio, durante o dia, pois há outras escolas na região que oferecem o noturno.

E frisou que, apesar de haver questionamentos quanto a alguns conteúdos, os professores não estão boicotando o novo ensino médio.

“Batalhamos para ensinar as novas disciplinas”, disse ele, complementando que são os estudantes que estão rejeitando certos conteúdos.

A diretora do estabelecimento, Shirley Muzzi, em 2021, com a introdução do EMTI, foi observado o declínio na quantidade de alunos.

Diante disso, em 2022, foi enviado ofício à SEE, comunicando seu incômodo com essa situação.

Nesse mesmo ano, Muzzi reclamou que a escola não tinha estrutura para atender ao ensino integral.

Reforma

Em 2023, foi iniciada a reforma, mas a evasão de alunos se ampliou. A gestora completou que, ainda nesse ano, em reunião online, solicitou a volta do EM parcial, sem obter resposta satisfatória da secretaria.

Já em 2024, no início do ano letivo, foi enviado novamente ofício fazendo o pedido. Ela finalizou que luta para que o Tito continue a oferecer o EMTI e também o ensino médio parcial. 

Para Raimundo dos Santos, auxiliar de serviços da educação básica do Tito Fulgêncio, se o Estado quer implantar o tempo integral para o ensino médio, que ofereça melhores condições para as escolas e seus alunos.

E defendeu que integrantes da SEE dialoguem com funcionários e toda a comunidade atendida pela escola dos bairros Concórdia e Renascença.

Alunos e pais reclamam do novo ensino médio

Vários estudantes e ainda pais de alunos reclamaram da adoção do modelo de ensino médio em tempo integral, considerado ineficaz e inapropriado para atender às necessidades e obrigando os primeiros a ficarem das 7 horas às 16h40 na aula. 

Raíssa Barbosa afirmou que os professores estão sendo obrigados a ministrar disciplinas para as quais não têm formação. 

Complementando, Vitória Bruna disse que o governo não fornece o material didático adequado para as aulas, obrigando os mestres a gastarem do seu bolso.

Considerou que há na grade muitas matérias desnecessárias enquanto outras importantes não são oferecidas. 

Vitória Almeida detalhou que matérias como Projeto de vida e Estudos Orientados estão sendo oferecidas, com pouco proveito para os estudantes.

Por outro lado, são ministradas por ano 58 aulas de matemática, o que compromete a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). 

Ari Inácio defendeu o direito de os estudantes optarem pelo ensino integral ou parcial, já que muitos precisam trabalhar para complementar a renda familiar.

Dylan Martins completou que o Tito Fulgêncio não oferece a estrutura necessária para a modalidade integral, pois não há salas de informática, laboratórios ou equipamentos tecnológicos. 

A moradora do Renascença Denise Santos, mãe de dois alunos da escola reivindicou a volta do ensino médio parcial e diurno.

“O Tito Fulgêncio não é só um prédio, mas um coração pulsante da comunidade, a qual deve ter o direito de escolher o modelo de escola em que quer estudar”, frisou.

Denise Romano, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, lembrou que em 2023 foi sancionada lei oriunda de projeto de Beatriz Cerqueira, que garante a manutenção do ensino médio parcial, conforme a necessidade da comunidade.

“Então, há a lei, a mobilização e o desejo dos alunos”, concatenou, cobrando a aplicação da lei pela SEE.

Na opinião de Paulo Gonçalves, presidente da Associação Comunitária dos Amigos do Bairro Concórdia (Ascomac), o Governo de Minas, “retrógrado, privatista e elitista”, quer precarizar o ensino para facilitar a privatização.

Ele exigiu a volta do ensino médio parcial, do qual depende a população da região: “São 15 mil moradores, trabalhadores que dependem da ajuda de cada membro da família para melhorar a renda; e jovens que ficam em casa para os pais trabalharem”.

Também na avaliação de Pedro Pinheiro, coordenador da Associação Cultural de Luta Popular e Sindical (LPS), o governo está sucateando as escolas para privatizá-las depois.

No caso do Tito Fulgêncio, instalado na rua Jacuí, uma das mais antigas da cidade, ele avalia que há o interesse imobiliário de utilizar a área da escola para fazer supermercados ou condomínios.

Secretaria afirma que dará resposta à demanda em agosto

Afirmando estarem abertas ao diálogo, integrantes da Secretaria de Estado de Educação divulgaram que darão resposta à reivindicação dessa comunidade escolar somente em agosto.

Cláudia Lara, subsecretária de Articulação Educacional, registrou que a pasta está trabalhando no plano de atendimento para 2025, com base nos estudos de cada superintendência regional de ensino.

Ela justificou que a lei de Beatriz Cerqueira só será aplicada no próximo ano. E que até o fim de agosto, quando será concluído o plano de atendimento, será dado um retorno à comunidade do Tito Fulgêncio quanto a sua reivindicação.

Kellen Senra, subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica, anunciou que vai abrir o diálogo pedagógico com a escola, para se pensar em outras opções de ensino além do tempo parcial:

“Temos também uma matriz de 7 horas, não só essa de 9 horas, implantada no Tito Fulgêncio; podemos pensar ainda numa oferta de ensino técnico, com cursos de interesse dessa comunidade”.

Declarou ainda que a escola, participativa e atuante, é uma referência para a SEE. “Hoje, só 10 estudantes tem aproveitamento abaixo do esperado; o Tito Fulgêncio teve nota superior na redação, de 580, quando a média do estado é 505, fruto do trabalho de professores e alunos”.

Rosa Reis, superintendente Regional de Ensino da Metropolitana A, reforçou que a demanda da comunidade será debatida na discussão do plano de atendimento.

Ponderou que o EMTI é uma política nacional e os dados mostram que o modelo obtém bons resultados. E lembrou que a reivindicação inicial do Tito Fulgêncio era para melhorar a estrutura da escola, e não para acabar com o ensino integral.

Entrega de documentos

Durante a reunião, a deputda Beatriz Cerqueira recebeu dois documentos da comunidade com informações justificando a volta do ensino médio parcial e os entregou oficialmente às representantes da SEE.

Ela disse que a audiência era um desdobramento da visita que a comissão fez à escola em abril deste ano. “O objetivo é sairmos desta audiência com as coisas resolvidas; temos todas as demandas da escola e acho que é possível resolvê-las”, cobrou.

Com informações do site oficial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

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