No momento em que o Estado decretou emergência em saúde por aumento de doenças respiratórias em Minas, a falta de pessoal atinge, em menor ou maior escala, a maioria das alas e serviços do Hospital Júlia Kubitschek, conforme constatado em visita à unidade realizada, nesta segunda-feira (5/5/25), pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Situado num terreno de mais de 220 mil metros quadrados no bairro Milionários, Região do Barreiro, na Capital, o hospital integra o complexo hospitalar de especialidades da Fhemig, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, sendo referência pública em clínica médica, obstetrícia, neonatologia, pneumologia e cirurgia torácica, incluindo urgências.
Na visita, a Assembleia foi representada pelo deputado Lucas Lasmar (Rede), membro da Comissão de Saúde. Ele percorreu diversas áreas do hospital e identificou a falta de pessoal em muitas delas.
Na Unidade Neonatal, por exemplo, dez leitos de terapia intensiva contam com sete técnicos de enfermagem em cada plantão, quando seriam necessários nove. Dos 40 leitos do CTI adulto, 28 funcionam e 12 estão fechados por falta de pessoal.
Das sete salas do centro cirúrgico, três estão ativas e quatro não funcionam. Numa das salas de cirurgia, técnicas de enfermagem disseram que os quatro técnicos se desdobram ao limite para cuidar da medicação prescrita por cinco médicos.
No ambulatório de pneumologia, a média de 80 atendimentos diários distribuídos pela manhã e tarde caíram pela metade, e não são feitos mais em todos os dias da semana nos dois turnos, segundo relatos de servidoras do local. A causa, disseram, seria a aposentadoria de médicos, sem que tenha havido reposição dos quadros.
Ainda no ambulatório de pneumologia, a pintura está sendo renovada, mas no espaço que seria de vestiário e banheiros há baias trancadas e outras servindo de depósito para negatoscópios, painel de luz para visualização de radiografias, doados pela UFMG.
Conforme a diretora-geral do hospital, Cláudia Andrade, os atendimentos em pneumologia não foram prejudicados porque estariam sendo feitos em ambulatório no primeiro andar. As baias serão quebradas e o espaço transformado em sala para discussões médicas, disse ela.
Em outro andar, o setor de internação tem duas alas grandes fechadas há anos. “Desde 2010 lutamos pela reabertura desses espaços com 100 leitos”, criticou Neuza Freitas, diretora executiva do Sind-Saúde, sindicato que representa os servidores.
Segundo a diretora-geral do JK, seriam na verdade 82 leitos, os quais permanecem desativados porque as obras necessárias nas duas alas foram paralisadas e a empreitada foi judicializada.
Servidores apontam exaustão
Segundo relataram servidores, nesse cenário de falta de pessoal não são raras situações de cansaço, sobrecarga de trabalho, assédio moral e preocupação com os pacientes.
“Aqui a gente cuida com amor dos bebês, sabemos que eles são o sonho de alguém. Mas a sobrecarga exige chamar os concursados ou pelo menos colocar pessoas em hora extra”, frisou Aline Parente Costa, técnica de enfermagem.
Na unidade neonatal, as horas extras estavam cortadas, tendo sido retomadas recentemente. Mesmo assim, servidores são chamados de última hora e nem sempre comparecem ao plantão extra, por questões pessoais, incluindo demandas da família, emocionais e exaustão, conforme os relatos.
Na mesma unidade, houve ainda relatos de falta de pediatras. Conforme a Fhemig, a estratégia adotada para sanar a falta desses profissionais foi a contratação via consórcio.
Faltaria interesse de concursados pelas vagas
Sobre os problemas de pessoal verificados, a diretora-geral do hospital disse que têm sido feitas várias convocações de médicos concursados, de seleção homologada em julho do ano passado, mas que a Fhemig tem enfrentado dificuldades de ocupação das vagas pela falta de interesse dos aprovados em assumir o posto.
Já a seleção para a área de enfermagem foi homologada em fevereiro deste ano e os aprovados já têm sido chamados, havendo a expectativa de que as escalas de trabalho completas sejam restabelecidas em até 60 dias.
Contudo, para fazer frente ao decreto de emergência em saúde, haverá expansão de leitos com chamamento emergencial, disse Cláudia Andrade.

Além de falta de pessoal há espaços fechados por questões de manutenção. Foto: Willian Dias ALMG
Fechamento de laboratório e obras também geram questionamentos
Na visita, o sindicato ainda denunciou a intenção da direção de desativar o laboratório de análises clínicas da unidade, uma vez que foi iniciada a transferência de exames para o Hospital João XXIII. “Isso com riscos para a qualidade dos materiais coletados durante o trajeto”, criticou a representante do Sind-Saúde.
A diretora geral do hospital, contudo, disse que uma parcela dos exames já é terceirizada há anos para outros laboratórios, inclusive da rede privada, sem prejuízo à qualidade. O que mudou, segundo ela, foi que desde abril exames sorológicos e de bioquímica que demandam mais tempo para resultado, como culturas, passaram a ser feitos no João XXIII. Aqueles de urgência, com liberação de resultados em duas horas, permanecem sendo feitos no laboratório do Júlia Kubitschek, explicou ela.
“Se trata de uma reorganização das estruturas, o que se quer é regionalizar laboratórios por expertise e otimizar estruturas para ganhos em escala”, justificou.
Auditoria
Sucessivas obras que começam e não terminam ou se repetem no hospital foram também apontadas na visita pela representante do SindSaúde.
“O Júlia tem uma história de canteiro de obras, o que merece uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado questionando essas obras eternas, seus valores, licitações e empresas”, reivindicou.
A diretora do hospital defendeu a necessidade das obras, dizendo que as intalações foram construídas há 64 anos, impondo segundo ela limitações estruturais que demandam intervenções.
Deputado vê falta de prioridade do Estado
Para o deputado Lucas Lasmar, além da falta de pessoal verificada durante a visita desta segunda-feira (5), a situação do atendimento no Hospital Júlia Kubitschek foi agravada pelo corte de horas extras, até recentemente.
“Ver aqui 12 leitos de CTI fechados quando há um decreto de emergência do Estado, um bloco cirúrgico com sete salas e só três funcionando e duas alas de internação fechadas mostra que o Estado não se prepara. Falta prioridade à saúde, fortalecendo as estruturas já existentes.”

Conforme Lucas Lasmar, uma audiência pública na ALMG deverá aprofundar o debate sobre a situação do hospital.
Com Informações do site oficial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais