A nova sede do CRAEDI e a Educação Inclusiva

São muitos os desafios que a educação nos impõe, especialmente a educação infantil. Nesse quesito a situação ainda ganha uma maior complexidade em relação às crianças com necessidades especiais e altas habilidades. Por isso é de se celebrar a inauguração da nova sede do Centro Municipal de Referência e Apoio à Educação Inclusiva, CRAEDI, que […]
terça-feira, 8 fevereiro, 2022

São muitos os desafios que a educação nos impõe, especialmente a educação infantil. Nesse quesito a situação ainda ganha uma maior complexidade em relação às crianças com necessidades especiais e altas habilidades. Por isso é de se celebrar a inauguração da nova sede do Centro Municipal de Referência e Apoio à Educação Inclusiva, CRAEDI, que levou o nome de Dr. Dilermando Dias Miranda, médico referência em causas sociais, médicas e espirituais. O espaço é muito acolhedor e uma grande conquista para a educação e para família valadarense, configurando-se como o maior centro de educação inclusiva do interior mineiro. Esse foi um gol de placa do Prefeito André Merlo e do Secretário Municipal de Educação, José Geraldo Lemos Prata. Vale a pena a todos os valadarenses visitarem o local, pois é uma luz de esperança na nossa educação.

Eu gosto de destacar que na pauta dos direitos das pessoas com deficiência o Governo André tem cinco grandes conquistas: a) a reestruturação do CADEF, centro de referência em reabilitação física e mental, liderada pela fisioterapeuta Érika Guerrieri; b) a inclusão da terapia por meio de cavalos no atendimento público, especialmente financiado por emendas do Deputado Marcelo Aro, Igor Timo e Tiago Mitraud; c) o fim da fila de espera de cadeiras de roda; d) a transformação da Praça de Esporte em um ambiente totalmente acessível; e e) agora a inauguração do novo CRAEDI. Ainda há muitos avanços a serem realizados, como um novo espaço para o CADEF, a construção do Centro de Especialidades em Reabilitação, especialmente em suas modalidades mais avançadas de alta complexidade, o aperfeiçoamento da relação entre as estruturas públicas e privadas com os centros universitários, entre outras. Mas é preciso reconhecer que houve avanços e que as conquistas se dão em processo, não em atos únicos e completos. Mas queria neste espaço falar de duas questões que a pauta da educação inclusiva nos traz para refletir. 

Primeiro a educação inclusiva não é específica para crianças com limitações físicas ou mentais, que precisam de um suporte para atingir os níveis da educação regular, mas incluem as crianças de altas habilidades que se submetidas aos métodos do ensino regular irão se entediar e reduzir seu interesse pelo ensino como um todo. Assim, o olhar é muito mais complexo para a questão infantil e muito mais plural. Primeiro porque entre as necessidades especiais, as necessidades regulares e as altas habilidades há uma dimensão enorme de variáveis, considerações, limites e empoderamentos possíveis. O CRAEDI é um centro de referência, mas a educação inclusiva precisa perpassar a educação regular, considerando que a convivência entre pessoas com dimensões distintas de habilidades é uma vivência necessária para a aprendizagem. E cada criança é única, podendo nessa mesma individualidade possuir deficiências, regularidades e altas habilidades. Isso exige uma atenção multi e interdisciplinar dos profissionais envolvidos em educação infantil. E diga-se, ainda que de passagem, a parte da educação que deveria concentrar a maior parte dos nossos investimentos, tanto em termos de recurso financeiros quanto de tempo.

Segundo ponto que gostaria de destacar, e que o Grupo de Trabalho Acessibilidade da UFJF-GV faz muito bem, é a necessidade de ensinarmos a sociedade como um todo para a inclusão, o que envolve retirar o viés condenatório dos aspectos da linguagem e do comportamento e passar por um viés mais pedagógico, inclusive em relação a termos tipicamente associados ao capacitismo. Capacitismo é um termo utilizado para designar o preconceito contra pessoas com deficiência. O termo, que vem da tradução do inglês 'Ableism', significa destratar ou ofender uma pessoa por sua deficiência. O problema que o capacitismo está na estrutura da linguagem sem que muitas vezes nos apercebamos deles, e muitas vezes são pronunciados sem uma má-fé ou intencionalidade de ferir. Geralmente até associados a uma ideia positiva, marcada por tratar uma pessoa com deficiência sem que ela fosse normal e por isso merecesse de nós uma postura de condescendência (ou dó).  Por exemplo, ao falarmos que alguém é cego por não te cumprimentar na rua ou concluir que uma criança com síndrome de down não viverá uma vida afetiva normal manifestamos o capacitismo em diferentes graus. 

Calma, a ideia não é condenar ninguém, até porque o capacitismo está imbricado em nossas relações. A ideia é de esforçarmos para mudar de postura em relação a linguagem e a forma como vemos pessoas com deficiência ou com altas habilidades (altas habilidades, igualmente, geram preconceitos), incluindo a mudança de hábitos, linguagem e infraestrutura urbana. O convite é para que a gente possa aperfeiçoar nossos hábitos, e mais do que isso, que a gente fale sobre essas questões sem medo de errar, pois é mais importante que falemos para aprendermos do que fiquemos com medo de entrar neste universo desconhecido para muitos.

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