Por Lígia Heringer
A cidade do Porto, em Portugal, foi o local escolhido para o 4º Ciclo Ibero-Americano de Diálogos Contemporâneos, um evento científico interinstitucional e internacional de grande relevância que ocorrerá entre os dias 26 e 28 de março de 2024. Sob os holofotes da ONU, pesquisadores e acadêmicos se reunirão para debater questões fundamentais sobre história, historiografia e memória.
Um dos grupo de pesquisadores que apresentará trabalhos científicos conta com os professores Sandra Nicoli (UNIVALE/UFES), Maria Cristina Dadalto (UFES), Dimitri Fazito de Almeida Rezende (UFMG), Sueli Siqueira (UNIVALE) e Patrícia Falco Genovez (UNIVALE) e, de forma virtual, levará ao evento um estudo desenvolvido sobre a permanência e ressignificação da italianidade no contexto migratório brasileiro.
Fotos: Divulgação Univale
A pesquisa inicial faz parte do projeto de doutorado da professora Sandra Nicoli, e teve a contribuição dos demais docentes na elaboração e construção do texto, que foi apresentado e selecionado para o 4º Ciclo Ibero-Americano.
O trabalho mergulha fundo na cultura, identidade e memória, explorando a italianidade que se modificou ao longo das gerações. Através de uma abordagem qualitativa, o estudo analisa as narrativas de territorialidades dos descendentes das famílias camponesas italianas no Espírito Santo e em Minas Gerais.
A professora Sandra Nicoli ressalta a relevância fundamental de eventos como este para o avanço científico. Em suas palavras, “ser selecionada para participar deste evento científico internacional é de extrema importância, especialmente porque aborda temáticas que refletem aspectos fundamentais da sociedade.
Discute-se aqui não apenas os modos de vida e a cultura, mas também as relações de poder, as estruturas tradicionais e não convencionais, as formas de emoção e memória, bem como os meios de produção. São temas sensíveis, que refletem a complexidade das ações humanas”.
Durante o evento, teremos o privilégio de interagir com acadêmicos que trazem perspectivas diversas e enriquecedoras, de acordo com a professora Sueli Siqueira.
“O diálogo com especialistas que trabalham diretamente com a temática dos movimentos migratórios oferece uma oportunidade única para aprimorar nossas próprias pesquisas. Ouvir as experiências e análises de pesquisadores de diferentes partes do mundo não apenas enriquece nosso entendimento, mas também nos desafia a considerar novos caminhos e abordagens. Essa interação é fundamental para o crescimento contínuo dos estudos e investigações realizadas pelo Núcleo de Estudos sobre Desenvolvimento Regional (Neder), da UNIVALE", completou a docente.
Já a professora Patrícia Genovez destacou a oportunidade de discutir a italianidade em um evento de projeção internacional. “É uma alegria poder discutir a questão da italianidade reunindo pesquisadores da UNIVALE, da UFES e da UFMG. Enfim, é a divulgação em um evento internacional das pesquisas desenvolvidas no Neder e, por conseguinte, do GIT/UNIVALE [mestrado em Gestão Integrada do Território]”.
Como evento científico internacional apoiado pela ONU, o Ciclo Ibero-Americano de Diálogos Contemporâneos destaca não apenas a abordagem interdisciplinar, mas também a capacidade de reunir pesquisadores de diferentes instituições e países. O evento promete ser um espaço de reflexão profunda sobre a história, historiografia e memória.
Italianidade: permanência e ressignificação
Entre os anos de 1870 e 1930, um ambicioso projeto de colonização promovido pelas elites agrárias brasileiras abriu as portas para imigrantes italianos, especialmente nas plantações de café e nas áreas desabitadas do território nacional.
Além dos objetivos econômicos, esse movimento também carregava um ideal de civilização branca, ao mesmo tempo em que os imigrantes italianos traziam suas próprias histórias, culturas e identidades étnicas diversas.
Os resultados parciais da pesquisa revelaram um intrigante processo de adaptação e renovação da identidade italiana no Brasil. A italianidade foi moldada pelas estratégias de múltiplas territorialidades, nas quais os descendentes buscaram preservar não apenas a cultura e a memória de seus antepassados, mas também a sua própria identidade, resultado da fusão entre as raízes italianas e o contexto brasileiro.
“É fundamental entender como essas histórias se entrelaçam com o cotidiano e moldam as experiências das gerações seguintes. Como a italianidade se tornou não apenas uma herança ancestral, mas um elemento vivo e dinâmico na identidade nacional”, ressaltou Sandra.
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