POR MARCIUS TÚLIO
Parece que a banalização da violência, das trapaças e falcatruas e da indiferença se apossaram dos altos círculos do poder na república tupiniquim.
Talvez por força da profissão que exerci por 30 anos, seja até natural que me ocupe com esse sentimento, mas as notícias que me cercam, em ambientes que ainda me sinto seguro, ladeado por pessoas comuns, de boa fé, me indicam que já está se tornando viral, ou seja, a convivência diuturna com atos e fatos que desacreditam a moralidade estão tomando um caminho que traduz insegurança, terror e ansiedade, no que podemos chamar de medo.
A partir do momento em que o direito pétreo de ir e vir se tornou um risco iminente, uma aventura arrebatadora, nossos sentidos tendem a se tornar vigilantes e temerosos, convidando-nos à clausura residencial, onde se pode sentir, pelo menos e ainda, a sensação de segurança.
Sensação de segurança é um termo muito comum na linguagem policial, um clichê que visa maximizar a atuação dos encarregados de fazer cumprir a lei, numa espécie de incentivo ao labor de proporcionar aos cidadãos essa sensação, não é absolutamente uma solução. Para se ter uma sensação de segurança de fato eficaz, que transpire tranquilidade, são necessários vários vetores incisivos, onde o mais relevante é sem dúvida, a segurança jurídica.
Ao coibir o sagrado direito de legítima defesa, impedindo o cidadão de bem de dispor dos meios necessários e adequados para repelir uma injusta agressão, os legisladores nos introduzem na cova dos leões famintos, ensandecidos pela volúpia de se impor à sua presa e arrancar dela todo seu direito, inclusive à vida, para satisfazer seus instintos imediatistas e transitórios, muitas vezes bestiais.
Adequar a tal “estado de coisas” é tarefa das mais difíceis, ultrapassa a capacidade de um ser desejoso de viver em paz e poder criar sua família com um mínimo de dignidade.
Anexe ao descaso com um mínimo de moralidade, de qualidade de vida, a demonização dos órgãos de segurança que, desautorizados, desmotivados e o que é pior, desmoralizados se prestam a “enxugar gelo” atuando como “espantalhos no trigal” sem perspectiva de luz no fim do túnel.
A glamourização de atitudes a atividades ilegais, o desrespeito flagrante às individualidades parece ganhar status institucional de forma irreversível, substituindo sonhos por pesadelos, inaugurando apreensão em cada esquina limitando nossos sentidos.
Vivemos um estágio onde a veneração ao bizarro se tornou comum em nome do politicamente correto, reverenciar terroristas sanguinários parece ser normal em função de uma ideologia da qual seus próprios ideólogos se afastam e se protegem com escudos humanos em busca de um paraíso utópico.
O êxtase hipnótico apropriadamente aplicado nas massas dominadas pela ansiedade e pelos lamentos da razão distorce a natureza humana para exaurir qualquer possibilidade de reação física, mental ou emocional, consagrando a universidade de zumbis.
Resignação, sim, até quando?
Resiliência, sim, até quando?
“Enquanto os cães ladram, a caravana passa”, mas é uma passagem dolorosa, vem arrastando todos os preceitos morais e éticos que caracterizaram gerações e gerações para subjugar as próximas, retirando, a fórceps, sua capacidade de pensar, de decidir, enfim de viver.
A busca incessante pela convivência na hipocrisia e na mentira, respaldada pela necessidade irracional da soberba fugaz gera o conflito de gerações, daí instaura-se a ambiência desejada, o caos.
Bem vindo ao Brasil das futilidades diplomáticas, onde a verdade macula, onde a liberdade prende, onde se safar da justiça é ato de heroísmo insólito, onde o colosso deixou de ser impávido para se tornar inerte, onde o poste urina no cão.
E vida que segue.
Paz e Luz.
Sobre o autor:
Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais e analista político