por Dylan Pretto
Revisitando um clássico dos anos 90 protagonizado por Robin Williams, deparei-me com uma temática atemporal, mas particularmente intensificada na era pós-industrial moderna. Em Sociedade dos Poetas Mortos, o protagonista diz algo que ressoa como uma verdade incontestável: "Medicina, direito, negócios, engenharia – essas são ocupações nobres e necessárias para sustentar a vida. Mas a poesia, a beleza, o romance, o amor – são essas as coisas pelas quais vivemos". De fato, e especialmente nos países que vivenciam o capitalismo tardio (os de terceiro mundo, para utilizar a antiga nomenclatura), vivemos em uma sociedade que enaltece a racionalidade, a lógica, a funcionalidade e a produtividade acima de tudo. No entanto, o que torna a existência suportável não é apenas a eficiência mecânica das engrenagens do mundo, mas sim aquilo que nos faz sentir vivos: arte, poesia, música, cinema, dança, natureza, amor
Em um mundo cada vez mais acelerado e voltado para a produção e o resultado imediato, o valor do intangível é constantemente subestimado. A arte é tratada como um adorno, um capricho, algo secundário diante das necessidades concretas do dia a dia. Apesar disso, é justamente ela que impede que a vida se torne insuportável, que nos dá alívio diante da dureza da existência. A poesia não serve apenas para enfeitar páginas, assim como a música não é apenas um som agradável no fundo de um dia corrido. O cinema não existe apenas para entreter, nem a dança para ser vista como uma performance vazia. Todas essas formas de expressão carregam dentro de si uma função visceral: humanizar, emocionar, permitir que a complexidade dos sentimentos tenha espaço.
A arte não está aqui para ser "bonitinha" ou supérflua. Ela é um escudo contra a aridez do mundo, contra o pragmatismo extremo que nos esvazia pouco a pouco. Sem arte, sem emoção, sem a sensibilidade do belo, nos tornamos meros operários de um ciclo sem sentido, repetindo tarefas sem propósito além da sobrevivência. Em um mundo que se orgulha tanto da exatidão e da previsibilidade, é preciso lembrar que a vida não se resume a sistemas, números, fórmulas e estatísticas.
O que nos faz verdadeiramente humanos são as histórias que contamos, as emoções que compartilhamos e os momentos de beleza que encontramos no caos. E é a arte que nos permite continuar respirando, quando tudo ao redor parece sufocar.
Dylan Pretto é formado em Direito, artístico plástico e crítico de arte