por Dylan Pretto
A cerimônia do Oscar do último domingo mais uma vez reforçou um padrão recorrente dentro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood: a preferência por premiar atrizes jovens em detrimento de mulheres mais experientes.
A vitória de Mikey Madison, de 25 anos, na categoria de Melhor Atriz, ecoa o que aconteceu em 1999, quando Fernanda Montenegro perdeu para Gwyneth Paltrow, então com 27 anos. Agora, foi a vez de Fernanda Torres e Demi Moore verem a estatueta escapar em favor da jovem promessa. Curiosamente, a mesma lógica não se aplica à categoria masculina. Com exceção de Adrien Brody, que venceu em 2003 aos 29 anos, os vencedores do prêmio de Melhor Ator costumam ser intérpretes mais experientes.
Este ano, Brody impediu Timothèe Chalamet de quebrar seu recorde, vencendo a estatueta pela segunda vez, e entrando no Guinness Book com o discurso mais longo da história da premiação.
Enquanto isso, a cerimônia ainda consegue errar naquilo que deveria ser sua faceta mais reverente: as homenagens. Preferiram colocar Margaret Qualley dançando ao som de James Bond do que oferecer tributos dignos a Alain Delon, David Lynch e Cacá Diegues, um dos grandes nomes do Cinema Novo, que teve uma contribuição inestimável para o cinema nacional e internacional, dirigindo obras que exploraram a identidade cultural brasileira e levando o Brasil a importantes festivais ao redor do mundo. Seu apagamento na cerimônia apenas reforça a falta de reconhecimento que o cinema latino-americano ainda enfrenta em premiações globais.
Um desdém que soa especialmente irônico diante do tema de “A Substância”, filme cuja trama gira em torno da substituição de uma atriz mais velha por uma jovem em ascensão.
Resta saber qual será o futuro de Mikey Madison, dados que a trajetória de Gwyneth Paltrow após sua vitória, entrou em declínio. Por fim, embora tenhamos conquistado um Oscar na categoria de Filme Internacional, a vitória soou do mais como um prêmio de consolação do que um verdadeiro reconhecimento da força do nosso cinema.
Dylan Pretto é formado em Direito, artista plástico, crítico de arte e escritor