por Marcius Túlio
No país da piada pronta, onde os escândalos de corrupção, a violência, os estelionatos, a “picaretagem” e até mesmo a fome ou a sede é motivo para chacotas as mais diversas e de esquecimentos caracterizados pelo famoso “jeitinho brasileiro”, sempre de forma hilária, onde o bom humor supera a razão, a liberdade de expressão é vital.
De certo mesmo é que o livre pensar e o livre expressar é parte integrante do modo de vida do brasileiro, não se admitindo, nesse universo, qualquer tentativa de controle ou limitação, conhecidos como censura.
O bom humor, costumeiramente sarcástico, característica do brasileiro, muitas vezes confundido ou misturado com apatia e passividade, vem, ao longo dos anos, sendo utilizado com maestria e sagacidade como catálise para a submissão à vontades pessoais e ao poder econômico, tão bem explorado pelo poder político.
Como sói acontecer nas mais vigorosas ditaduras que a História registra, a vontade da maioria é silenciada ou ofuscada com pontuais e eficazes campanhas publicitárias e açoitada pelo populismo paternalista e inconsequente dos eminentes detentores do poder político e financeiro, não raras vezes em conluio ou coautoria.
A submissão psicológica, que antecede à material, protagonizada pragmaticamente visando a dependência total do Estado não é mero acidente de percurso ou inabilidade institucional, é parte integrante de um projeto maior de poder absoluto e infalível, é o poder pelo poder.
À medida que se silencia as massas, se extermina adversários e se coopta adeptos devidamente adestrados, o poder vai se tornando mais robusto e irresistível, tendente a soberano.
As vontades se agrupam num mesmo sentido até se fundirem numa só, idealizada meticulosamente em função do poder personificado.
Esse poder personificado ganha vida própria e passa a esmagar quaisquer focos de insurgência ou destoantes da vontade central, se tornando um mero posto, um local de instabilidade transitória cujos elementos são descartáveis, sugerindo o Paradoxo do Navio de Teseu.
Os antigos elementos, se reutilizados, se submetem, sob a pena capital, ao novo império da vontade, agora revigorado pelo novo conceito de controle mental que se estende a tudo e todos com escrúpulos e ética próprios.
As vontades destoantes se tornam alienígenas, portanto ilegais e imorais segundo os novos padrões de perfeição e de submissão, não cabendo recurso ou alternativa.
Ao Estado, enquanto conceito de Nação, caberá a garantia do novo império erguido da vontade mutante e instável, o aparato estatal se torna peça de um tabuleiro viciado e corrompido pelas vaidades eternas de poderosos e sinistros bajuladores do poder.
Nesse novo regime, as leis se adequarão aos fatos, as narrativas darão sentido à sua aplicação, sempre privilegiando a vontade central.
A máquina de propaganda não pode parar, a pirotecnia impactante determinará o sentido do pensamento coletivo estabelecendo os pesos e medidas que atenda à vontade central, de forma que a hipnose cognitiva criará no intelecto um novo paraíso progressista.
Assim que os preparativos, já em fase de concussão, se tornarem efetivos, concretizando a vontade central, o ciclo estará fechado, não haverá retrocesso e o poder pelo poder reinará insólito.
Quem viver verá.
Paz e Luz.
Sobre o autor
Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais