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O curral dos loucos

Marcius Túlio, colunista do Jornal da Cidade GV, escreve sobre a sua linha do tempo
Os desafios do idoso, imagem reproduzida da Internet.
domingo, 31 março, 2024

Por Marcius Túlio

Cheguei aos 61 anos de existência terrena, na presente versão. Na forma da Lei nº 10.741/2003 sou considerado idoso, certamente “amparado por ela.

Não importa os rótulos de “gagá”, “galo véio”, “coroa”, “veterano” e outros tantos mais que destinam a mim, o que importa, de verdade, é que me considero um vencedor por ter chegado até aqui, o que aprendi com meus erros e acertos e as experiências que tive durante esse curto período, a considerar a vida infinita do espírito.
Sou um vitorioso.

Dessa forma, é inevitável que me cause estranheza o fato de que minha data natalícia, que remonta no milênio passado, não seja suficiente para atestar minha condição de idoso.

O respeito pelos “mais velhos” me foi ensinado desde o berço, ainda que esse costume ficasse no rol dos ultrapassados, sendo necessária a votação de uma lei que reconhecesse os ensinamentos dos meus pais. Mas o que incomoda é que inadvertidamente, a tal lei trouxe alguns penduricalhos esdrúxulos.

A começar pela exigência de se catalogar em órgão oficial para se ter a certeza da condição amparada pela lei, não basta documentação exigida para minha sobrevivência. Uma espécie de coleira, onde passei a ser considerado mais uma cabeça, um número, logo, sou gado.

Dito isso, algumas sequelas causam espanto:

_O quê determina minha condição de idoso, minha data natalícia ou a marca definida pelo Estado?
_A tal lei está sendo respeitada ou é mais uma para constar na relação de boas intenções?
_As famosas filas indianas destinadas a idosos é de fato, benéfica ou apenas uma forma dissimulada para burlar a lei, já que fila exclusiva nunca determina prioridade?
_Em 08 de janeiro de 2023 a lei foi respeitada?

Não sou um entusiasta de leis que são criadas apenas para dar satisfação à sociedade ou para angariar simpatia popular, sem nenhuma aplicação prática.

Lado outro, o que quero realmente ressaltar, é o flagrante curral social em que fomos depositados, tendo apenas como um exemplo o engodo do Estatuto do Idoso.

Assim como nos campos de concentração nazistas ou nos gulacs soviéticos, fomos ordeira e passivamente conduzidos a trabalhos forçados ou a câmaras de gás, disfarçados de ações sociais, direitos trabalhistas remunerados e liberdades controversas, com números, invisíveis a olho nu, cravados em nosso dorso, com movimentos devidamente controlados pelos nossos incríveis dirigentes.

A envergadura que a idade me permite trouxe consigo algumas reflexões preocupantes que compartilho humildemente: será que, de fato, sabemos o que é uma democracia?

Somos parte integrante do Estado?

Somos uma nação politicamente organizada ou somos uma nação ordenadamente manipulada pela política?

Caso ainda estejamos no livre exercício das nossas faculdades mentais, é bom que busquemos essas respostas para nossa sobrevivência como nação, pelo menos naquela nação que nossos pais nos falavam com entusiasmo juvenil.

Com a capacidade cognitiva severamente inibida por potentes placebos e por manobras evasivas habilidosas e convincentes, mergulhamos nas águas turvas das incertezas, bem próximos da ignorância, para nos tornarmos “povo marcado, povo feliz”, como dizia o artista.

Paz e Luz.  

Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais

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