por Jamir Calili
Quero falar aqui da importância de discutirmos a ideia de maternidade e de família em um conceito de políticas públicas. E para pensarmos o conceito de maternidade, que está ligado semântica e pragmaticamente ao papel da mulher, é preciso pensar, também, no papel dos pais e dos substitutos, uma vez que os conceitos que serão aqui trabalhados envolvem também essas pessoas dentro de seus papeis específicos.
Como o espaço não nos permite, vou me dedicar ao termo da maternidade, sem, contudo, afastar-me do necessário debate sobre a paternidade. A maternidade tem sido reconhecida como elemento essencial no desenvolvimento emocional e racional das pessoas.
Pesquisas indicam que crianças cuidadas por suas mães durante a maioria do desenvolvimento infantil são adultos mais equilibrados e bem-sucedidos. Do ponto de vista da emancipação humana, o afeto na infância dado diretamente pela pessoa que ocupa o papel de mãe, seja ele na qualidade de parturiente ou na qualidade de mãe substituta, é fundamentalmente importante. Não se trata, por óbvio, de negar a importâncias das casas cuidadoras, mas da importância de repensarmos as políticas públicas voltadas para as crianças e para a família.
Não há dúvida, inclusive do ponto de vista econômico, dos ganhos sociais se investirmos na primeira e na segunda infância, não só do ponto de vista da educação formal, mas, também, do ponto de vista da estabilidade familiar.
A questão não é meramente sentimental. É de desenvolvimento humano e social. Sociedade mais desenvolvidas, felizes, economicamente mais estáveis investem pesado na ideia da maternidade e no desenvolvimento infantil. Inclusive, o retorno financeiro desses investimentos é maior do que aqueles realizados no ensino superior ou outras políticas públicas voltados para família.
Assim uma política pública séria voltada para o desenvolvimento infantil, para a preservação do papel da maternidade e da família deveria envolver principalmente as seguintes linhas de ação:
a) desenvolvimento de formação para a maternidade, que envolva tanto mães e pais, mas que busquem ensinar lições de nutrição, economia doméstica, cuidados e segurança com crianças, estratégias de sono da criança, criação de rotinas, brincadeiras que visem desenvolver o controle emocional e cognitivo da criança, além da importância do afeto;
b) desenvolvimento de um sistema de proteção social para as mães e pais, como licenças maternidades mais estendidas em substituição ao uso de creches, que são importantes, mas desempenham um papel subsidiário na relação mães e filhos. É preciso encarar que a maternidade é quase uma profissão, um emprego que ocupa maior parte do tempo de uma mulher, com sobrecarga de jornada de trabalho;
c) desenvolvimento de um sistema de saúde público voltados especificamente para família e a relação mães e filhos, com locais apropriados e específicos;
d) desenvolvimento de estratégias econômicas voltadas para a emancipação feminina, especialmente com treinamentos e habilitação para o mercado de trabalho e o empreendedorismo, em que a mulher ou o pai que ocupe essa posição, possa otimizar seu tempo em dedicação ao filho e o retorno ao mercado com condições menos desvantajosas; e
e) não esquecer da violência doméstica e dos conflitos familiares que merecem uma atenção especial com psicólogos, mediadores de conflito e conciliadores bem treinados.
Muitas dessas coisas já acontecem, mas não de forma articulada, e no setor público faltam políticas públicas voltadas para esse fim. Há muito profissional competente que já poderia exercer essas atividades. Além disso, destaca-se, são sugestões e outras podem ser incorporadas.
Por fim, para não falar que não falei das flores, eu quero dar um carinho abraço a todas as mães, as mães com os filhos presentes, as mães que perderam seus filhos, as mães que estão passando por desafios domésticos, a todas elas, geradoras de vida, não só da vida biológica, mas da vida, do que temos de melhor nela.
Um abraço especial a minha mãe e à mãe de minhas filhas, as quais amo enormemente.
Jamir Calili, membro da Academia Valadarense de Letras, professor na UFJF, cientista social, advogado e vereador.