LIDERANÇA SUSTENTÁVEL

Sustentabilidade e meio ambiente pode ser conceito que se interagem, mas são conceitos distintos.
Foto: Imagem ilustrativa reproduzida da Internet
domingo, 1 outubro, 2023

por Jamir Calili

Acredito que o momento em que estamos vivendo, em que há sobrecarga do sentimento de desconfiança entre atores políticos e sociedade, uma forte crise de representatividade e uma polarização acirrada entre prós e contras desperte em nós a necessidade de superação de alguns conflitos para que possamos despontar lá na frente com políticas que de fato gerem resultado. Sobretudo, acredito que não importante muito o que os políticos dizem sobre si mesmos, mas os resultados que eles têm entregado à sociedade, com a melhoria objetiva da qualidade de vida individual e coletiva.

Trago para esse debate alguns conceitos chaves que me inspiraram e tenho tentado trazer para o meu estilo de liderança, construindo uma nova ideia sobre gestão e sobre o que acredito que possa inspirar as pessoas que estejam me lendo.

Antes de tudo precisamos rever o conceito de sustentabilidade, usualmente tratado como uma questão meramente ambiental. Sustentabilidade e meio ambiente pode ser conceito que se interagem, mas são conceitos distintos. Quando eu falo que uma política ou uma empresa é sustentável eu vou além da questão ambiental. São sustentáveis políticas que atendam a pelo menos seis fatores: a) seja economicamente viável não só no sentido monetário, mas no sentido utilidade, em que desperdícios são minorados; b) seja social e culturalmente positivos; c) respeitem a legalidade; d) respeitem o sentimento de moralidade da comunidade; e) atendam para as questões políticas como participação e legitimidade; e f) que atendam a construção de um meio ambiente, urbano e natural, físico e espiritual, equilibrado e produtivo.

E com isso em mente, precisamos pensar em como construir e desenvolver lideranças sustentáveis, ou seja, lideranças que sejam capazes de pensar no curto, médio e longo prazo, construindo reputações inspiradoras e que façam bem para suas comunidades. Este estilo de liderança, seja ela política ou empresarial, deve desenvolver seis competências fundamentais:

1) Agir orientado por crenças, princípios e valores sustentáveis, ou seja, considerar aquelas seis dimensões de uma política sustentável, tendo-as como motivadoras e razão de ser de uma ação, seja política ou privada;

2) Ter coragem, coerência e resiliência, ou seja, enfrentar os desafios que se impõe, especialmente o da ignorância. Humberto Eco disse que as redes socais deu voz ao idiota da aldeia. Ele tem razão no sentido genérico. Não precisamos ficar apontado dedos para este ou aquele indivíduo, pois há um sério risco de sermos este idiota. Mas, sobretudo, as lideranças precisam combater a ignorância, com argumentos racionais, razoáveis e ponderados. E esse trabalho é necessário com dose de paciência, pois os efeitos só serão sentidos em longo prazo;

3) Construir sinergias, ou seja, buscar o local onde temos consensos – e são muitos -, neutralizar ações repetitivas e retrabalhos;

4) Possuir visão de oportunidades, o que não significa ser oportunista. É preciso enxergar as novas tendências, aquilo que as pessoas não querem mais ou não estão mais dispostas a pagar e investir em inovação;

5) Educar outros líderes. Não tem como liderar sem espalhar seu conhecimento e suas ideias. Eu costumo dizer que a maior boa ação que um bom líder ou alguém bem sucedido pode fazer pelo próximo é repassar seu conhecimento, é divulgar as boas ideias; e

6)  Ter visão sistêmica e de interdependência, de forma a entender que soluções pontuais resolvem problemas pontuais, e que a administração pública e os mercados compõe um complexo sistema e que as coisas se inter-relacionam, de forma que, a velha burocracia, em que cada parte fazia somente aquilo que lhe competia, acabou. Vivemos um sistema de transversalidade, interdependência e interdisciplinaridade.

Embora possa não parecer, diante do caos e da crise de confiança que vivemos, o mundo em breve não será mais o mesmo e não haverá mais espaço para lideranças do século passado. O século XX está se encerrando, como conjunto de paradigmas, nos próximos meses.

Jamir Calili é professor da UFJF/GV e vereador em Governador Valadares, MG

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