Por Marcius Túlio
Desde que o mundo é mundo, o homem, leia-se ser humano para atender o politicamente correto, almeja, sonha e luta pela liberdade. É a própria essência de sua existência na Terra.
Basta um ligeiro raciocínio minimamente conclusivo, de costumes extraídos da própria História das civilizações para se constatar que o castigo estabelecido para os marginais, leia-se à margem da lei, quase como uma convenção, é exatamente o cerceamento ou a limitação da liberdade.
Arrisco até em dizer que da liberdade surge a vida, embora não tenha autoridade para dizê-lo.
É no livre pensar, no livre agir, no livre sonhar que exercitamos o livre arbítrio, talvez o maior legado, além da vida, amorosamente outorgado pela Criação.
Ao exercer seu direito divino à liberdade, os humanos encontraram, em suas imperfeições, formas, as mais diversas, de subjugar seu semelhante em busca da vaidosa e primitiva sensação de poder.
Em seu afã, encontrou na política um poderoso aliado, uma ferramenta pontualmente eficaz para concretizar seus instintos bestiais.
Atormentado pelos seus fantasmas e inspirado na sua volúpia pelo poder absoluto, digladiou-se com seus iguais, escravizando, matando e aterrorizando, tudo no rastro da supremacia e da hegemonia, seja pelas armas, seja pelos subterfúgios mesquinhos e fraudulentos.
Nesse emaranhado de ideias, armas e ardis conseguiu, por fim, obter uma conquista efêmera ao dividir, classificar, desarmonizar e conturbar um ambiente já saturado de imperfeições e carregado de primitivismo, típico do processo evolutivo e natural da raça humana enquanto no planeta azul.
E suma, a divisão ou classificação definiu dois lados distintos, os poderosos e os não poderosos, onde obviamente, aqueles escravizam os demais usando a força bruta ou a perspicácia dos argumentos ardilosos e malfazejos.
A dicotomia gerada aguçou o sentimento de posse que o poder desperta desde o coração mais puro até os mais empedernidos, transformando as relações interpessoais em intermináveis lutas pelo poder, onde a divina natureza humana é subjugada em nome das benesses ofertadas pelos círculos que envolvem o poder.
Trata-se de um jogo que faz doutrina, que busca eternizar sua ideologia como solução final das mazelas humanas, onde certamente os tentáculos do poder determinam e controlam o destino dos subjugados, essa facção não tolera discordância e abomina dissidências, logo, devem ser eliminados e então, os ciclos da vida se tornam balizados por um poder central que beira o sobrenatural.
Assim que nações se submeteram passivamente aos caprichos ideológicos subsidiados pela enganosa proposta de igualdade sem limites e pela ambiciosa pretensão de fartura sem esforço, surgiram os Estados totalitários, onde toda e qualquer atividade se tornaram monopólio dos detentores do poder, incluindo aí, o monopólio de ideias e pensamentos.
Trazidos para à chamada ciência política, esse cenário, devidamente codificado por filósofos de segunda ou terceira ordem, ganhou o nome de socialismo que, mais tarde, aperfeiçoado, se tornou comunismo, dando corpo à premissa de que tudo e todos pertencem ao Estado. Nada mais que posse, de forma que o dono dispõe de tudo e de todos da maneira que lhe for conveniente e onde toda individualidade será castigada.
Note-se, por extensão, que a tal liberdade é irrelevante enquanto contraponto dos interesses coletivos direcionados a uma casta dirigente e suprema, qualquer lampejo de liberdade deve ser sufocado, pois pode aclarar a verdade.
Alheios a tudo, para a surpresa de alguns, deparamos com uma intelectualidade autointitulada guardiã do conhecimento e da sapiência nas mais diversificadas áreas de desenvolvimento humano, como as classes artística, médica, jurídica, filosófica, pedagógica, dentre outras, cuja liberdade é o maior vetor para a celebração de seu mister, apegarem-se nos conceitos comunistas com ferrenho destemor.
Ultrapassa minha capacidade cognitiva tal compreensão, salvo se enveredar-me pela opção de enxergá-los como oportunistas ou acreditar que sua vaidade chega ao ponto de subestimar o livre arbítrio daqueles que consideram inferiores para, a partir daí, determinarem-lhes o destino.
Pode-se dizer então, por analogia, que estaremos diante de uma liberdade vigiada intelectualmente, concebida para germinar a semente totalitária na forma de uma democracia relativa.
Paz e Luz.
Marcius Túlio é Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais e analista político