por Marcius Túlio
Num país em que os Cassinos são proibidos, o jogo do bicho é ilegal e os jogos de azar são repudiados, exceto aqueles organizados com extrema criatividade pela Caixa Econômica Federal ou oficializadas pelo governo, a recente avalanche de Casas de Apostas internacionais, as BETs pode ou deve, ser considerada no mínimo incoerente ou mesmo curiosa.
Apostas nada mais são que um jogo, cujo controle é impossível, notadamente por se tratar de um costume arraigado nas entranhas humanas, seja lucrativo financeiramente, seja por vaidade ou mesmo por controvérsias rotineiras, de certo mesmo que se tornaram um lucrativo negócio.
Rebuscando na memória, um povo sem memória não pode se arriscar no futuro, deparamos com a tentativa de se conter o ávido impulso dos humanos em se perder no vicioso mundo do jogo, um dos vértices do chamado Triângulo Maldito, álcool/drogas, jogo e orgias, que leva o ser humano comum à derrocada financeira e moral, pelo menos essa era a visão que os saudosos antepassados nos legaram.
Com ações legais, talvez impróprias, os governos, no Brasil, buscaram conter esse mal pela raiz, para muitos, de forma exagerada e inútil, proibindo jogos de azar em todo o território nacional, a começar pelos famosos Cassinos até chegar ao jogo do bicho, provocando situações constrangedoras e inócuas, haja vista a hipocrisia que o tema representa no seio da sociedade.
Sem entrar no mérito, por absoluta impropriedade, nada tenho contra os jogos, muito menos contra sua proibição, não me dizem respeito, abordo o assunto meramente para suscitar incongruências que estão criminalizando pessoas sem previsão legal.
Ora, se o jogo é proibido, por que razão estão ocorrendo no país?
Se estão autorizados, qual é o problema?
As Casas de apostas, desde que autorizadas a atuar no Brasil, além de incentivar a atividade no país, é um acordo de negócios, entre apostadores, não exige nem necessita da tutela do Estado, que após receber seu sagrado tributo pela atividade empresarial, deve se manter neutro ou fora da negociação, sem qualquer interferência que não a tributária, se for o caso.
Lado outro, as Casas de Apostas, em livre mercado no cenário brasileiro, optou, com absoluta conveniência lucrativa, por explorar a paixão nacional, o futebol. Inapelavelmente um terreno fértil para apostas e mais apostas.
Com um verdadeiro festival de opções de apostas, que vão de gols marcados, cartões amarelos e vermelhos, escanteios, pênaltis, faltas, jogadores punidos e autores de gols, enfim uma gama de oportunidades oferecidas ao apostador de boa fé, sem, contudo, se cercarem dos cuidados necessários para minimizar possíveis, prováveis e sedutoras fraudes.
Parece bem mais fácil envolver o sistema legal, o Estado, para se protegerem, sem se indisporem com sua clientela, ou seja, o ônus fica com o Estado, provavelmente sem custos adicionais, pelo menos de forma legal ou previsível, como preferirem.
Ao abrir o leque para as numerosas modalidades de apostas, a concessionária descortina também uma infinidade de opções para falcatruas, exatamente pelas aparentes facilidades que as opções oferecem, tornando o feito tentador ao apostador, natural em se tratando de Brasil ou de brasileiros, o antídoto não pode nem deve ser estatal.
Registre-se que existem variados programas destinados a cooptar, orientar e das sugestões aos apostadores, provavelmente tudo registrado num computador, incluindo nesse contexto, participação de personalidades esportivas e jornalistas especializados no esporte em análise, supostamente, tudo de forma lícita.
Trata-se de uma atividade privada, a contenção não cabe ao Estado, especialmente por inexistir legislação que ampare o jogo e suas nuances, até então ou ate há pouco, proibido no país, não vejo coerência moral ou racional.
Com seus avassaladores tentáculos no cenário nacional, as BETs estão provocando tumulto na vida de muitos brasileiros, gerando gastos de dinheiro público em investigações policiais e parlamentares, constrangendo e ameaçando pessoas sem qualquer respaldo legal ou moral.
No âmbito do futebol, indiciando jogadores, que usam no seu marketing, não se sabe se autorizadas ou não, rotulando-os e impactando numa atividade tida como entretenimento, transformando uma paixão nacional num balcão de negócios, com extrema crueldade e com focos divergentes, como cortina de fumaça.
Observando os recentes acontecimentos envolvendo atletas do futebol, que dominaram a mídia desportiva e policial, passou-me pela cabeça uma indagação cuja resposta é óbvia, mas parece estar sendo esquecida ou preservada: “A decisão de aplicar cartões, amarelos e/ou vermelhos durante uma partida de futebol cabe aos árbitros ou aos jogadores?".
Mas e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol)?
A CBF vai bem obrigado, mesmo com escândalos atrás de escândalos, contratou um técnico italiano para a Seleção Canarinho, ainda com as camisas amarelas, a peso de ouro, além de dar nome de uma Casa de Apostas ao seu principal produto.
Paz e Luz.
Marcius Tulio é Coronel da Polícia Militar de Minas e articulista do Jornal da Cidade GV