O lobo atrás da porta

Vitor Matos de Souza escreve sobre o filme "O lobo atrás da porta", produção do cinema brasileiro, baseado em fatos reais relacionados a um crime de grande impacto na sociedade brasileira nos anos 1960
Na imagem principal, Neide Maia Lopes saindo da sede da Polícia Civil do Rio de Janeiro, segurando seus pertences, a caminho do presídio. Ela ganhou o apelido de "Fera da Penha". Foto: Reprodução Tribunal de Justiça do Rio
domingo, 17 setembro, 2023

Dando continuidade à série de episódios criminais ocorridos em solo nacional que viraram produções cinematográficas, hoje irei falar sobre um caso mais antigo, ocorrido na década de 60, mais precisamente em 63. Ficou conhecido popularmente como: A Fera da Penha.

O nome dado faz referência à monstruosidade do crime e o local onde ele foi cometido, ou seja, no bairro da Penha no Rio de Janeiro.

Tudo começou quando Neide Lopes começou a encontrar coincidentemente um rapaz no ônibus que ela pegava para o trabalho. Esse rapaz se chamava Antônio e dada as circunstâncias não demorou muito para que eles começassem um caso romântico.

Como todo e qualquer romance, a constante repetição dos encontros e a intimidade aflorando tem como consequência o estreitamento dos laços, porém Neide não enxergava esses vislumbres de compromisso vindo de seu parceiro Antônio.

Como ela era leitora assídua da coluna de Nelson Rodrigues, logo desconfiou daquilo que ela mais temia, ou seja, de que ele era casado e ela era apenas uma amante com quem se divertia. Tomada por um espirito especulativo, ela começou a investigá-lo por conta própria. As vezes o seguia, as vezes conversava com conhecidos.

E para o seu total desespero, suas suspeitas se concretizaram. Antônio era casado e tinha uma filha: a pequena Taninha.

Inicialmente ela apenas queria que ele fosse sincero, e até esperava uma confissão. Jogava uns verdes no intuito de que ele fosse se abrir, mas Antônio sempre titubeava para não assumir que era casado e perder as chances de se encontrar com ela.

A situação ficava tensa a cada encontro e para piorar a situação Neide notou que algo acontecia em seu corpo. Sim, ela estava grávida de Antônio. E quando resolveu contar, foi como se o mundo dele desabasse. Antônio imediatamente recomendou que ela abortasse, mas Neide não queria. A coisa chegou num ponto em que ela mesma colocou as verdades sobre seu casamento e sua família, o que motivou Antônio a tomar uma iniciativa monstruosa, tudo isso para garantir com que seu casamento se mantivesse.

No outro dia ele se encontra com Neide de posse de uma suposta aura tenra, e a chamou para tomar sorvete. Neide, iludida, imaginou que ele daria boas notícias, algo em torno de que ele queria ter o filho ou que ele iria formar uma nova família com ela, porém, não era isso. Ao contrário, Antônio armou uma emboscada e a levou para uma clínica de aborto clandestina onde Neide foi forçadamente desacordada e, da mesma forma, feita a interrupção de sua gravidez.

Até aqui, podemos deduzir que a Fera da Penha, seria Antônio, correto?

Esse é o ponto mais controverso dessa história. Ao meu ver existem dois psicopatas na jogada, mas uma teve a sua psicopatia desperta por uma alma muito mais perversa que, no caso, a de Antônio.

Ao acordar do procedimento, Neide concluiu que nunca havia se sentido tão humilhada na vida, o que motivou a colocar seu plano de vingança em ação.

Meticulosamente, Neide se aproximou da família de Antônio nos momentos em que ele estava trabalhando. Conquistou a amizade e a confiança de sua esposa e da pequena Taninha. Até que no dia 30 de junho de 1960 Neide buscou Taninha na escola e, sem uma gota de compaixão, a levou para um matadouro onde deu um tiro em sua cabeça e a queimou inescrupulosamente.

A produção cinematográfica que conta essa história se chama: O Lobo Por Trás Da Porta e está disponível na Star Plus, na Netflix e na GloboPlay. Não é algo para ver em família, mas para quem gosta de criminal case vai curtir.

Vitor Matos de Souza é um amante da sétima arte e escreve aos domingos na edição impressa do Jornal da Cidade GV.

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