Região da Bacia do Rio Doce terá aumento no volume de chuvas em novembro

A previsão foi feita por professores de Climatologia do IFMG/GV. Precipitação prevista para a Bacia do Rio Doce no mês de novembro apresenta tendência de 160 mm a 200 mm na porção leste da bacia, nas regiões próximas a Aimorés e Governador Valadares
O pico da Ibituruna encoberto será uma cena comum em Governador Valadares. Foto: Tim Filho, arquivo Jornal da Cidade GV
terça-feira, 31 outubro, 2023

O Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Campus Governador Valadares, divulgou o boletim informativo com a previsão climática para o mês de novembro de 2023, para as microrregiões do Leste e Nordeste de Minas, envolvendo o médio rio Doce, Mucuri e médio Jequitinhonha. O Jornal da Cidade GV destaca as previsões para o Médio Rio Doce, com análise dos dados feita pela Professora Daniela Martins Cunha, da área de Geografia/Climatologia do IFMG/GV, com base nos dados produzidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

A tabela 1 mostra os dados das Normais Climatológicas do Instituto Nacional de Meteorologia - Inmet de 1980 a 2010 e de 1991 a 2020 para o mês de novembro em estações meteorológicas localizadas em municípios da Bacia do Rio Doce, na qual observa-se uma variação pluviométrica de 170,4 mm (Governador Valadares) a 258,1 mm (Coronel Fabriciano).

Já na figura 1a nota-se a espacialização da Normal Climatológica de precipitação acumulada de 1991 a 2020 para o mês de novembro. Nela verifica-se que a precipitação média para a bacia do Doce varia de 220 mm a 260 mm, sendo que, apenas em uma pequena área da bacia, próximo a bacia do Mucuri, a média varia de 180 mm a 220 mm.

Sobre a precipitação total prevista para a bacia no mês de novembro (Figura 1b), observa-se a tendência de 160 mm a 200 mm para a porção leste da bacia – regiões próximas a Aimorés e Governador Valadares; de 200 mm a 230 mm de nordeste a sudeste da bacia abrangendo parte de sua região central – regiões de Ipatinga, Caratinga, Manhuaçu e Viçosa; de 230 mm a 260 mm em uma faixa da bacia compreendendo o norte, oeste e sudoeste – região de Conceição do Mato Dentro, e ainda próximo a Conceição do Mato Dentro uma pequena porção territorial com previsão de 260 mm a 300 mm.

Destaca-se ainda que, em maior parte do território da bacia, a tendência é de chuvas acima da média, ou seja, anomalias positivas de 10 mm a 50 mm – entorno de Governador Valadares, Conceição do Mato Dentro, Ipatinga, Manhuaçu e Viçosa, ficando as demais áreas com tendência de chuvas dentro da normal climatológica – leste da bacia (Aimorés e Caratinga) e oeste/sudoeste da bacia (Figura 1c).

As chuvas registradas no mês de novembro na Bacia do Rio Doce podem ser causadas por fatores dinâmicos e fatores estáticos. Dentre os fatores dinâmicos destaca-se, principalmente, três sistemas atmosféricos: 1- a Zona de Convergência do Atlântico Sul – ZCAS3 e 2- a Zona de Convergência de Umidade – ZCOU, ambas caracterizadas como zonas de convergência de umidade da região Amazônica para a região Sudeste e identificadas por muita nebulosidade e precipitação, sendo resultado, dentre outros fatores, do contato da massa Equatorial Continental (MEC) com a massa Polar Atlântica (MPA).

Esses sistemas possuem como diferença apenas a duração, o padrão de escoamento e o volume de precipitação, pois na ZCOU o volume de chuva comumente é menor, e 3- as Frentes Frias que, ao passarem, especialmente sobre a região oceânica próxima ao litoral da região Sudeste, ocasionam o transporte de umidade do oceano para a área continental. Os sistemas frontais são, por conseguinte, responsáveis pela formação das chamadas chuvas frontais.

Além dos sistemas citados anteriormente as chuvas dessa época do ano são comumente resultantes do forte aquecimento continental que ocasiona uma diminuição da pressão atmosférica e, consequentemente, a convergência dinâmica do ar, ou seja, a subida de umidade, o que favorece a formação das chuvas de verão ou de convergência ou convectivas. Em relação aos fatores estáticos destaca-se a localização geográfica da bacia, mas precisamente sua posição latitudinal, a qual permite que a bacia receba influência dos sistemas atmosféricos que se formam nas baixas e médias latitudes e as áreas da bacia de altitudes mais elevadas e de rugosidade do relevo que podem contribuir como condicionante local a formação das chuvas.

Ainda conforme a tabela 1 observam-se os registros das Normais Climatológicas do Inmet de temperaturas máximas dos municípios da bacia do Doce, os quais variam de 27,7°C em Viçosa a 31,9°C em Aimorés e também os registros de temperaturas mínimas, variando de 17,9°C em Viçosa a 22°C em Aimorés. A temperatura média compensada, segundo a Normal Climatológica de 1991 a 2020 (Figura 2a), divide a bacia em dois territórios com tendências de temperaturas homogêneas no mês de novembro, um no qual os valores variam entre 22,0°C a 24,0°C no centro-oeste da bacia e outro no qual os valores variam entre 24,0°C a 26,0°C no centro-leste da bacia.

Para o mês de novembro de 2023 a temperatura média prevista para toda a bacia do Rio Doce poderá variar conforme Inmet (Figura 2b), de 20,0°C a 22,5°C nas regiões sul/sudeste e nordeste da bacia – entorno de municípios como Viçosa e Manhuaçu; de 22,5°C a 25,0°C em parte do norte, no oeste, região central e parte do sudeste da bacia – entorno de municípios como Ipatinga, Caratinga e Conceição do Mato Dentro, e de 25,0°C a 27,5°C em parte do norte a leste da bacia – entorno de municípios como Governador Valadares e Aimorés.

Na figura 2c verifica-se que há para toda a bacia a previsão de anomalias de temperatura acima da média, portanto, positivas. No extremo sul da bacia a variação tende a ser de 0,2°C a 0,6°C acima da média, já na porção central da bacia estendendo-se até o norte da bacia esta variação será de 1,0°C a 1,5°C. E nas demais áreas da bacia (faixas no noroeste, oeste, sudoeste, sudeste e leste) a variação prevista é de 0,6°C a 1°C.

As temperaturas elevadas dessa época do ano são resultado, dentre outros, da localização latitudinal da bacia, sua maior proximidade do sol nessa época do ano e, consequentemente, o maior recebimento de radiação. Já a variação nos registros de temperaturas na bacia, tanto em relação à temperatura máxima como em relação à temperatura mínima, resulta da influência de fatores como a altimetria (áreas mais elevadas e mais baixas) e o relevo (rugosidade e inclinação da encosta).

Quanto a previsão de anomalias de temperatura acima da média, portanto, positivas, tal fato pode ser relacionado a ocorrência do fenômeno El Niño, o qual se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico na faixa tropical. O fenômeno já ocasionou em meses anteriores desse ano, na bacia tal como em diversas outras regiões do Brasil, o aumento nas temperaturas – acima da média prevista em dias consecutivos, gerando as chamadas ondas de calor, o que também é passível de ocorrer em novembro.

Créditos:

Previsão Climática gerada com base nos dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Responsável pela interpretação da Previsão Climática/INMET das Bacias do Doce, Mucuri e Jequitinhonha: Profa. Dra. Daniela Martins Cunha, do IFMG – Campus Governador Valadares.

Responsáveis pela interpretação da Previsão Climática/INMET para Bacia do São Francisco: Prof. Dr. Wellington Lopes Assis, UFMG- Campus Belo Horizonte, Profa. Dra. Laura Thebit de Almeida, IFNMG- Campus Januária, Prof. Dr. Fulvio Cupolillo do IFMG – Campus Governador Valadares.

Gostou? Compartilhe...

Leia as materias relacionadas

magnifiercrossmenu