A cidade que nasceu de um Porto de Canoas completa hoje 86 anos de sua emancipação política

A cidade nasceu de um Porto de Canoas e à sombra de uma Figueira. Antes de se denominar Governador Valadares, era distrito de Peçanha, MG, e se chamava Figueira. Seus moradores eram figueirenses. Um certo figueirense chamado José Raymundo Fonseca, que nasceu nessas bandas de Minas Gerais, numa planície ensolarada em meio a um mar […]
Esta foto de Ailton Catão tem os principais elementos da origem da cidade. A canoa, o rio, a montanha, a mata. Maravilhosa foto de uma cidade maravilhosa
terça-feira, 30 janeiro, 2024

A cidade nasceu de um Porto de Canoas e à sombra de uma Figueira. Antes de se denominar Governador Valadares, era distrito de Peçanha, MG, e se chamava Figueira. Seus moradores eram figueirenses. Um certo figueirense chamado José Raymundo Fonseca, que nasceu nessas bandas de Minas Gerais, numa planície ensolarada em meio a um mar de montanhas, e era chamado de “Mundinho”, conta que a Figueira, o distrito que virou cidade, nasceu na cachoeira de baixo e no antigo Porto das Canoas, de onde surgiu a rua que se tornou a “de baixo”, onde foi levantada a original capelinha pelos capuchinhos da catequese indígena sediada em Itambacury.

Mundinho, garoto esperto, conta mais. “No terreno arenoso da rua se viam as palmeiras ao vento. E o sapê que cobria os fogos de pau a pique e taipa. E onde, em 1810, foi instalado o quartel militar a que foi dado o nome de D. Manoel. O porto assimilou-lhe a realeza que não resistiu à tradição da figueira, também madeira de lei, então nativa na ilha que a usucapião transformou na dos Araújos. A rua de baixo ligou as duas cachoeiras de que a estação ferroviária se tornou o centro. Cachoeira cujos xuás-xuás ninavam a infância figueirense para o seu sono sonhador; e a despertavam para a vida linda de viver. Vivência!”

Se você é valadarense, desses que ama a cidade em que nasceu, arranje um cantinho no seu coração para amar a Figueira. Foi aqui que tudo começou. Ame-a como Mundinho a amou. E Mundinho segue contando a história. “No princípio era a mata. E a mata era virgem. E se revestia de perobas, cedros, braúnas e jacarandás milenares. Como de várias outras roupagens de policromia silvestre. E também de figueiras. Da figueira frondosa e acolhedora que abrigou a colonial expedição sequiosa pela descoberta de minas de ouro e de pedras preciosas. E por desvendar os segredos da região e do rio que a sulcava. E que era o Doce, em cuja margem quedava a figueira hospitaleira. Bendisse, então, o bandeirante à pousada acolhedora e, sob a égide da Ibituruna, intitulou-a Figueira do Rio Doce. E assim caracterizou o local de apoio para o retorno ou remissivas referências, como era usual nas notas ou registros das bandeiras”.

Esta foi a primeira versão ouvida pelos garotos contemporâneos de Mundinho, nos anos de 1900 a 1930, e que ele registrou no seu livro Figueira do Rio Doce, Ibituruna. Neste livro ele diz que versões outras indicam nominações diversificadas do Figueirenses no carnaval de 1931, prontos para o desfile ao som da banda dos irmãos Corando e Orlando Pinto. Ô, abre alas arraial figueirense, das mais próximas às mais remotas, desde Porto de D. Manuel, Porta da Figueira do Rio Doce, Santo Antônio de Bonsucesso, Porto da Figueira dos Botocudos, Santo Antônio da Figueira, Figueira do Rio Doce e Figueira.

Mas é bom deixar claro, para o bem da história, e para a satisfação dos historiadores, que oficialmente o nome Figueira do Rio Doce nunca existiu. O Distrito que virou cidade se chamava Figueira. Apenas Figueira, apesar de ser banhado por um rio, que é doce. Talvez seja por isso que muitos figueirenses incluí- ram o rio, de maneira informal, no nome do distrito e da cidade. Sim, depois que se emancipou de Peçanha, a cidade se chamou Figueira, em 31/12/1937. Somente em 17 de dezembro de 1938, por meio do decreto-lei No 148, Figueira sumiu do mapa e virou Governador Valadares.

História

Mundinho conta que “é verdade histórica que os expedicionários desbravadores que primeiro penetraram na bacia do Doce foram Sebastião Fernandes Tourinho, cumprindo missão iniciada em Porto Seguro em 1572, e bem mais tarde veio a subir o rio Doce até o rio Araceci – ou Suaçuí Grande – por este entrando em canoas rumo nascente norte, até à serra fria, ou Serro, desbravando região que no limiar do século XVIII viria sediar as minerações de Santa Maria do Suaçuí e Peçanha; e Marcos de Azevedo Coutinho que também subiu o Doce e atingiu o rio Coarecari Mirim ou Suaçuí Pequeno, entre 1596 a 1614. Esta última fase ou etapa indica mais incisivamente o acesso ao local. O apelido de porto de D. Manuel surgiu em 1810”.

Denominação Distrital

Mundinho explica que Figueira, à margem esquerda do rio Doce e fronteiriça à Ilha do mesmo nome, esta última assim chamada por ser berço nativo de figueiras silvestres, foi depois conhecida como arraial de Santo Antônio da Figueira, contando com 80 a 100 fogos (casas) para 200 habitantes. E se tornou porto frequentado por canoas que transportavam artigos de sobrevivência entre Figueira e o Espírito Santo, desde 1832, e mais ativamente a partir de 1870. “Aí foi criado o distrito de Paz pela lei provincial No 3077 de 06/11/1882 sob a denominação fugaz de Baguary, que durou dois anos. Pela lei No 3198, de 23/09/1884, o distrito foi elevado a Freguesia, sob o original e centenário nome de Figueira”.

O professor de História Haruf Salmen Espindola, em seus textos, explica que a denominação Baguary (ou Baguari) foi um equívoco do legislador, que foi corrigido, em seguida, com a lei No 3.198, de 23 de setembro de 1884, que denominou o distrito como Figueira. Tantas foram as denominações oficiais e não-oficiais, que Mundinho esclarece mais uma das muitas “confusões” acerca do nome da Figueira.

“Santo Antônio do Bonsucesso caracteriza antes uma confusão do que propriamente a designação da Figueira, em época mais remota. Na realidade esse foi o nome do então arraial do Peçanha que desde a sua fundação, em 1758, intitulava-se Santo Antônio do Bonsucesso do Descoberto de Pessanha, que, promovido a vila em 25/07/1875, sob o nome de Vila do Rio Doce, em 1881 foi elevado à cidade sob o título de Suassuhy, depois Peçanha. Vila do Rio Doce, eis aí a confusão com a Figueira do Rio Doce, Santo Antônio da Figueira, Santo Antônio do Bonsucesso, etc”.

São tantos os nomes que o clássico e imponente “Figueira do Rio Doce” se misturou aos demais e acabou prevalecendo em vários momentos da história.

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